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Atividade VIII EJA 1A-1B-1C

Boa noite meus queridos do EJA! tudo em paz com vocês?
Vamos a nossa atividade da semana.
Como sempre, uma vez que não temos ainda  um livro específico.
A atividade consiste na leitura do texto e responder no caderno o que se pede:
não só as questões com interrogações como também, às que estão assinaladas com marcadores em negrito.
Um abraço a todos!
Bons estudos!
Em caso de dúvida, estou à disposição de vocês.

NATUREZA OU CULTURA? 
Um ser entre dois mundos Podemos falar de mulheres e homens, de crianças, adultos e idosos, de negros, brancos e amarelos, de ricos e pobres, de heterossexuais e homossexuais, e assim por diante. Mas observe que, apesar dessa imensa diversidade, em todos os casos estamos nos referindo sempre à mesma coisa ou ser: o ser humano. Isso nos leva à questão inevitável, que tem motivado a atenção de tantos filósofos e estudiosos das diversas disciplinas: o que é o ser humano? Comecemos nossa busca usando o ponto de vista da biologia e da arqueologia. Sabemos que somos seres vivos pertencentes ao reino animal e, mais especificamente, à espécie denominada Homo sapiens. Então, nossa nova pergunta pode ser a seguinte: o que distingue nossa espécie das demais? Ou, em linguagem popular, qual é a diferença entre “gente” e “bicho”? Humanos e outros animais Se compararmos o corpo humano com o de outros animais, veremos que o nosso corpo não é tão capacitado quanto o deles para enfrentar uma série de dificuldades. Como ilustra o arqueólogo australiano Gordon Childe (1892-1957), não temos, por exemplo, um couro peludo como o do urso para manter o calor corporal em um ambiente frio. O corpo humano também não é excepcionalmente bem-adaptado, como o de alguns animais, à fuga, à autodefesa ou à caça. Por isso, não temos a capacidade de correr como uma lebre ou um avestruz. Não temos a coloração protetora do tigre ou a armadura defensiva da tartaruga ou da lagosta. Não temos asas para voar e poder localizar mais facilmente uma caça. Faltam- -nos o bico, as garras e a acuidade visual do gavião. No entanto, observa esse arqueólogo: Ser um humano diferente, mas igual. Afirmar a igualdade é reconhecer a existência de uma unidade que nos coloca sob a força das mesmas leis (naturais e jurídicas). Sustentar a diferença é valorizar a rica diversidade da vida, afastando-se do empobrecimento vital representado pelas “monoculturas” e pela massificação cultural. AFP 142 Unidade 2 Nós e o mundo FILOVU-141-159-U2-C7.indd 142 13/05/16 09:09 O ser humano pode ajustar-se a um número maior de ambientes do que qualquer outra criatura, multiplicar-se infinitamente mais depressa do que qualquer mamífero superior, e derrotar o urso-polar, a lebre, o gavião e o tigre, em seus recursos especiais. Pelo controle do fogo e pela habilidade de fazer roupas e casas, o homem pode viver, e vive e viceja, desde os polos da Terra até o Equador. Nos trens e automóveis que constrói, pode superar a mais rápida lebre ou avestruz. Nos aviões e foguetes pode subir mais alto do que a águia, e, com os telescópios, ver mais longe do que o gavião. Com armas de fogo pode derrubar animais que nenhum tigre ousaria atacar. Mas fogo, roupas, casas, trens, automóveis, aviões, telescópios e armas de fogo não são parte do corpo do homem. Eles não são herdados no sentido biológico. O conhecimento necessário para sua produção e uso é parte do nosso legado social. Resulta de uma tradição acumulada por muitas gerações e transmitida, não pelo sangue, mas através da linguagem (fala e escrita). A compensação que o homem tem pelos seus dotes corporais relativamente pobres é o cérebro grande e complexo, centro de um extenso e delicado sistema nervoso, que lhe permite desenvolver sua própria cultura. (A evolução cultural do homem, p. 40-41.) por esse raciocínio, podemos concluir que, diferentemente dos outros animais, os humanos não são apenas seres biológicos produzidos pela natureza. são também seres que modificam o estado de natureza (isto é, a condição natural das coisas, definida pelos processos da natureza). Isso significa que os humanos são também seres culturais. esmiucemos um pouco mais o que acabamos de afirmar. Condutas inatas e aprendidas Aprendemos em biologia que boa parte do comportamento dos animais está vinculada a reflexos e instintos (padrões inatos, não aprendidos, de conduta), relacionados a estruturas biológicas hereditárias. Assim, o comportamento de um inseto é praticamente igual ao de qualquer outro de sua espécie, hoje e sempre. É o que observamos, por exemplo, na atividade das abelhas nas colmeias ou das aranhas tecendo suas teias. no entanto, algumas espécies animais apresentam, além dos modelos comportamentais considerados inatos, algumas reações mais flexíveis, imprevisíveis ou maleáveis, de acordo com as circunstâncias ambientais. É o caso, por exemplo, de cães e gatos, nos quais se percebe muitas vezes o que se poderia chamar de “personalidade”. em chimpanzés e gorilas, é possível encontrar atos inteligentes e uma capacidade elementar de raciocínio. Agora, se colocamos o ser humano nessa comparação, podemos dizer que existe uma grande diferença entre seu comportamento e o dos animais em geral, no que diz respeito a certas habilidades. para dar um só exemplo, mesmo o chimpanzé mais evoluído possui apenas rudimentos daquilo que lhe permitiria desenvolver a linguagem simbólica – como qualquer humano saudável é capaz de fazer – e tudo o que dela resulta: aprender, reelaborar o conteúdo aprendido e promover o novo (invenção). Linguagem simbólica – sistema de símbolos, isto é, signos que, por convenção (acordo entre as pessoas), representam alguma coisa. por exemplo, as línguas portuguesa, inglesa etc. Isso quer dizer que a vida de cada animal é, em grande medida, semelhante ao padrão básico vivido por sua espécie. o ser humano, por sua vez, tem, individualmente e como espécie, a capacidade de romper com boa parte de seu passado, questionar o presente e criar a novidade futura. não há dúvidas de que todo ser humano apresenta também reflexos e instintos vinculados a estruturas biológicas hereditárias próprias da nossa espécie. paralelamente, elementos genéticos limitam certas mudanças, e fatores socioeconômicos dificultam a realização de determinados Mãe e criança (c. 1894) – pierre-Auguste renoir, óleo sobre tela (scottish national Gallery, edimburgo, escócia). mamar é um ato instintivo entre os mamíferos de modo geral. tanto filhotes de animais como bebês, mesmo sendo “marinheiros de primeira viagem”, não costumam ter dificuldade em sugar o alimento do seio materno. the brIdGemAn LIbrAry/Grupo Keystone Cap’tulo 7 O ser humano 143 FILOVU-141-159-U2-C7.indd 143 4/6/16 5:29 PM desenvolvimentos humanos. Além disso, vários tipos de crenças, ideologias e condicionamentos impedem as pessoas de sequer desejar uma transformação em si mesmas ou à sua volta (conforme veremos adiante). mesmo assim, podemos dizer que o ser humano não nasce pronto pelas “mãos da natureza”, como parece ocorrer no reino animal. como defendem alguns pensadores, a vida de cada indivíduo humano seria um “parto” constante, um processo permanente de nascimento e construção de si mesmo. o que determina, então, essa diferença entre o animal humano e todos os outros animais? Síntese humana continuando nossa análise a partir do ponto de vista biológico, essa característica humana de aprender e inventar, de perceber, interpretar e comunicar o que percebeu, de transformar a si mesmo e o que está ao seu redor parece estar intimamente ligada a propriedades de seu sistema nervoso e, especificamente, do cérebro humano, como assinala Gordon childe no final do texto citado e confirmam outros estudiosos. Graças à grande plasticidade (capacidade de modelar-se e ser modelado) de seu sistema nervoso, o ser humano constitui-se em um organismo cuja estrutura é capaz de apresentar condutas inatas e aprendidas, de desenvolver a linguagem, manifestar consciência e socializar-se (cf. Maturana e Varela, El árbol del conocimiento). o ser humano revela-se um ser ao mesmo tempo biológico e cultural. mediante a cultura, criou para si um “mundo novo”, diferente do cenário natural originalmente encontrado. em outras palavras, dentro da biosfera (a parte do planeta que reúne condições para o desenvolvimento da vida), os humanos foram construindo a antroposfera (a parte do mundo que resulta do ajustamento da natureza às necessidades humanas). essa antroposfera, criada pelas diferentes culturas, é a morada do ser humano no mundo. constitui o cosmo humano, um espaço construído pelos conhecimentos e realizações desenvolvidos e compartilhados pelos diferentes grupos sociais através da história (veremos especificamente o tema da cultura mais adiante neste capítulo). Isso significa que no ser humano ocorre uma síntese, uma integração de características hereditárias e adquiridas, inatas e aprendidas, aspectos individuais e sociais, elementos do estado de natureza e de cultura. essa condição parece fazer dos humanos seres ambíguos, contraditórios, instáveis e dinâmicos. um produto da natureza e da cultura e, ao mesmo tempo, um transformador da natureza e da cultura. criatura e criador do mundo em que vive. um ser capaz de dominar a natureza em muitos aspectos, mesmo fazendo parte dela. capaz não só de criar coisas extraordinárias, mas também de destruir de modo devastador. capaz de acumular um saber imenso e, no entanto, permanecer angustiado por dúvidas profundas que o fazem sempre propor a si próprio novas perguntas e novos problemas. o ser humano tem uma massa encefálica maior do que a dos outros animais e um sistema nervoso extenso e complexo. essa pode ser, segundo alguns estudiosos, a base biológica que nos permitiu certos “voos” mais altos, como o desenvolvimento da linguagem e a socialização – enfim, a criação cultural. spL/LAtInstocK 1. Identifique elementos de seu meio e de sua experiência cotidiana, distinguindo entre aqueles que pertencem à biosfera e à antroposfera. ConexõeS 144 Unidade 2 N—s e o mundo FILOVU-141-159-U2-C7.indd 144 4/6/16 5:29 PM Ponto de transição podemos fazer agora a seguinte pergunta: onde acaba, no ser humano, a natureza e começa a cultura? ou, dito de outra forma, que fator ou elemento determinou no ser humano essa transição da dimensão puramente natural para a cultural? esse tema despertou e ainda desperta muita discussão. Alguns estudiosos afirmam que não é possível identificar uma fronteira rígida entre natureza e cultura; para outros, um provável indicador dessa transição teria sido, em termos históricos, a construção das primeiras ferramentas pelos seres humanos. claude Lévi-strauss (1908-2009) faz o seguinte exercício de imaginação: Suponhamos que num planeta desconhecido encontremos seres vivos que fabricam utensílios. Isso não nos dará a certeza de que eles se incluem na ordem humana. Imaginemos, agora, esbarrarmos com seres vivos que possuam uma linguagem que, por mais diferente que seja da nossa, possa ser traduzida para nossa linguagem – seres, portanto, com os quais poderíamos nos comunicar. Estaríamos, então, na ordem da cultura e não mais da natureza. (Citado em Cuvillier, Sociologia da cultura, p. 2.) Assim, segundo Lévi-strauss, o que teria distanciado definitivamente o ser humano da ordem comum dos animais – animais que somos também e nunca deixaremos de ser – e permitido a sua entrada no universo da cultura seria o desenvolvimento da linguagem e da comunicação. não se pode negar que a linguagem constitui uma das dimensões mais importantes da existência humana, pois é ela que permite o intercâmbio das experiências e as aquisições culturais. É pela linguagem, por exemplo, que pais e mães comunicam a seus filhos e filhas não apenas suas experiências pessoais, mas algo mais amplo: as experiências acumuladas e compartilhadas pela sociedade. de modo inverso, é também por meio da linguagem que o conhecimento individual pode incorporar-se ao patrimônio social (estudaremos com mais detalhe o fenômeno humano da linguagem e da comunicação no próximo capítulo). Trabalho detalhe de Cena de caça (1505-1507) – piero di cosimo. representação da vida dos seres humanos quando ainda não dominavam o uso do fogo e não haviam criado instrumentos de metal. nela, o artista explora pictoricamente a tese – defendida pelo poeta e pensador latino Lucrécio (c. 99-55 a.c.), entre outros – de que a humanidade teria evoluído espontânea e gradualmente a partir de certos acontecimentos, como a descoberta do fogo com o incêndio de um bosque devido a um raio (retratado ao fundo). museu metropoLItAno de Arte, noVA yorK, euA mesmo assim, podemos seguir perguntando: que aspecto fundamentalmente humano permitiu essa transição? Vejamos as respostas de duas correntes interpretativas que consideramos as mais relevantes para nossa investigação. Linguagem e comunicação de acordo com alguns estudos, o fator determinante da transição natureza-cultura é a linguagem. trata-se de uma corrente que entende o ser humano fundamentalmente como um ser linguístico. para ilustrar essa concepção, o antropólogo francês detalhe de Caçadores na neve (1565) – pieter brueghel, o Velho. em uma série de quadros sobre as estações do ano (este, do inverno), o pintor flamengo – além de retratar a paisagem característica de cada período na região de Flandres (países baixos) – narra detalhes do cotidiano das pessoas no século XVI, mostrando como a vida comunitária se organizava em torno do trabalho.KunsthIsrorIsches, museum, VIenA, ÁustrIA Cap’tulo 7 O ser humano 145 FILOVU-141-159-U2-C7.indd 145 4/6/16 5:29 PM outra vertente interpretativa, fundada pelo filósofo alemão Karl marx (1818-1883), entende que é o trabalho que possibilita a distinção entre ser humano e animais, portanto, entre cultura e natureza. segundo essa perspectiva, seria a partir do trabalho – e da forma como se dá o processo de produção da vida material das comunidades humanas – que se desenvolveriam todas as outras formas de manifestação humana: Pode-se considerar a consciência, a religião e tudo o que se quiser como distinção entre os homens e os animais; porém esta distinção só começa a efetivarse quando os homens iniciam a produção dos seus meios de vida. (Marx e engels, A ideologia alem‹, p. 19.) de acordo com essa visão, portanto, é o modo como os seres humanos constroem sua vida material que dá origem à elaboração da vida espiritual e das relações sociais, formando um conjunto que constitui a cultura. Isso quer dizer também que não podemos falar de cultura no singular, mas sim de culturas, pois elas são múltiplas e variáveis, de acordo com a diversidade dos modos de ser e viver das coletividades humanas (estudaremos com mais detalhes o tema do trabalho no capítulo 9). Separação da natureza o que parecia ser uma vantagem tornou-se um problema: a capacidade humana de criar um mundo novo para si foi levada às últimas consequências com o passar dos séculos, culminando na crise ecológica atual, que ameaça a sobrevivência do planeta e da própria espécie humana. considerando-se superior ao resto dos animais e único senhor da natureza, o ser humano passou a explorá-los impiedosamente. e, negando seu próprio caráter de ser vivente, vem construindo para si um mundo altamente urbanizado e tecnologizado, cada vez mais artificial e separado da natureza. nem sempre foi assim. como vimos no capítulo anterior, a relação dos seres humanos com a natureza e o universo era distinta no passado. predominavam a percepção de que as pessoas são parte da natureza e a noção de que a razão humana constitui apenas uma expressão da racionalidade universal. como analisou o historiador da ciência estado- -unidense morris berman (1944-), antes da revolução científica, ocorrida a partir do século XVI, as pessoas viviam em um “mundo encantado”, onde pedras, árvores e rios eram vistos como portadores e doadores de vida. e elas se sentiam em casa nesse mundo maravilhoso, muitas vezes violento e hostil, mas ordenado (um cosmos). Assim, cada pessoa participava diretamente da trama da vida. seu destino individual estava ligado à totalidade, e essa inter-relação conferia sentido à vida de todos. havia, enfim, entre o ser humano e a natureza uma integração psíquica que há muito deixou de existir. com o progressivo “desencantamento” do mundo, vinculado à mentalidade científica vigente – de separação radical entre observador e objeto observado –, o ser humano tornou-se um estranho na natureza: se não sou minhas experiências e minhas conclusões sobre o mundo, não faço parte deste mundo (cf. BerMan, The reenchantment of the world). A reação a essa visão de mundo, que coloca o ser humano como centro de todas as coisas e de todos os interesses (antropocentrismo) – taxada de reducionista por seus críticos –, tem ocorrido dentro e fora da ciência. ela se expressa tanto em movimentos ecologistas, socioambientais e de defesa dos direitos dos animais como em algumas das novas abordagens da ciência surgidas nas últimas décadas (mais holistas, como vimos no capítulo anterior). Lixo predominantemente plástico trazido pela maré à ilha de bunaken, Indonésia. Imagem eloquente da separação entre o ser humano e a natureza, que tem como consequência o descaso com o meio ambiente. Você sabia que o plástico, dependendo do tipo, pode demorar mais de 500 anos para se decompor na natureza? por isso, estão se formando ilhas desse material no oceano. no pacífico já existe um verdadeiro continente de plástico. pAuL Kennedy/Getty ImAGes 146 Unidade 2 N—s e o mundo FILOVU-141-159-U2-C7.indd 146 4/6/16 5:29 PM 2. em relação ao texto do quadro anterior, identifique: a) o problema referido que ameaça a sobrevivência do planeta e da própria espécie humana e qual é sua causa; b) exemplos do que pode ser considerado uma “exploração impiedosa” da natureza e dos animais; c) exemplos de instituições que participam dos movimentos de defesa do meio ambiente e dos direitos dos animais. ConexõeS
1. pesquise e dê exemplos de comportamento instintivo em seres humanos e em animais.
2. Analise criticamente a seguinte afirmação: os seres humanos não nascem prontos pelas “mãos da natureza”.
3. Que fator parece determinar biologicamente essa diferença entre os seres humanos e os animais?
4. de acordo com Gordon childe, de que recursos o ser humano faz uso para compensar seus dotes corporais relativamente pobres em comparação com diversos animais? Você concorda com essa interpretação?
5. exponha a tese defendida neste capítulo a respeito de uma “síntese” humana.
6. discuta o que são, respectivamente, biosfera e antroposfera e se uma pode ameaçar a sobrevivência da outra.
7. de acordo com o que estudamos, existe um ponto claro e definido da transição ou síntese natureza- -cultura? Justifique sua resposta. anáLiSe e enTendimenTo
1. Direitos dos animais Leia estes dois artigos da declaração universal dos direitos dos Animais, proclamada pela unesco em 27 de janeiro de 1978: Artigo 11. – O ato que leva à morte de um animal sem necessidade é um biocídio, ou seja, um crime contra a vida. Artigo 12. –
 a) Cada ato que leve à morte um grande número de animais selvagens é genocídio, ou seja, um delito contra a espécie.
b) O aniquilamento e a destruição do ambiente natural levam ao genocídio. (Disponível em: . Acesso em: 21 out. 2015; destaques nossos.) reúna-se com colegas para pesquisar e discutir sobre esse tema, respondendo às seguintes questões: 
a) Você concorda que os animais não humanos possam ter direitos e que seja um crime matá -los, mesmo de forma indireta, pela poluição de seu hábitat? 
b) Você aprova o chamado especismo, isto é, a crença na superioridade de uma espécie (a espécie humana) sobre as outras? 
c) Você entende que há semelhanças do especismo com o racismo (crença na superioridade de uma raça) e o sexismo (crença na superioridade de um gênero, comumente o masculino)? ConverSa fiLoSófiCa Açougue (1551) – pieter Aertsen. não é surpreendente que ainda no mundo atual vejamos uma imagem de “carnificina” como essa e não nos horrorizemos? o que pode explicar isso?  7 O ser humano  cultura As respostas ao desafio da existência Assim, a cultura pode ser considerada um amplo conjunto de conceitos, símbolos, valores e atitudes que modelam e caracterizam uma sociedade. envolve o que pensamos, fazemos e temos como membros de um grupo social. nesse sentido, todas as sociedades humanas, da pré-história aos dias atuais, possuem uma cultura. e cada cultura tem seus próprios valores, suas próprias “verdades”. podemos falar, por exemplo, em cultura ocidental ou oriental (própria de um conjunto de povos com determinadas características comuns), cultura chinesa ou brasileira (própria de uma nação ou civilização), cultura tupi ou africana (própria de um grupo étnico), cultura cristã ou muçulmana (própria de um grupo religioso), cultura familiar ou empresarial (própria do conjunto de pessoas que constituem uma instituição) etc. de forma mais filosófica, enfim, podemos definir a cultura como um conjunto de respostas oferecidas por um grupo humano aos desafios da existência. essas respostas manifestam-se em termos de conhecimento (logos), paixão (pathos) e comportamento (ethos) – isto é, em termos de razão, sentimento e ação. essas respostas (construções linguísticas, mitológicas, artísticas, religiosas, morais etc.), porém, não foram iguais, tendo em vista que diferentes grupos humanos enfrentaram diferentes desafios (ambientais, econômicos, sociais etc.). e cada resposta foi gerando novos elementos, que produziram novos desafios. disso resultou a rica diversidade e pluralidade cultural existente em nosso planeta e que é patrimônio de toda a humanidade. Falamos até agora sobre essa distinção entre natureza e cultura. mas o que queremos dizer exatamente quando usamos a palavra cultura? para responder a essa pergunta, investiguemos primeiro o uso desse vocábulo em alguns contextos: • os biólogos, por exemplo, referem-se à criação de certos animais como cultura – cultura de micro-organismos, cultura de carpas e assim por diante. • na linguagem cotidiana, dizemos que uma pessoa tem cultura quando frequentou boas escolas e/ou leu bons livros, dominando diversos tipos de conhecimentos (científicos, humanísticos, artísticos etc.). • na Grécia antiga, o termo cultura adquiriu uma significação toda especial. correspondia à chamada paideia, processo de formação do cidadão pelo qual se realizava o que os gregos consideravam como a verdadeira natureza do ser humano, isto é, o desenvolvimento da filosofia (o conhecimento de si e do mundo) e a consciência da vida em comunidade. Apesar dessas diferentes acepções, podemos perceber em todas a existência de três ideias básicas, articuladas entre si: desenvolvimento, formação e realização. essas ideias básicas estão também presentes no uso que damos à palavra cultura. empregada por antropólogos, historiadores e sociólogos, ela designa o conjunto dos modos de vida criados e transmitidos de uma geração a outra, entre os membros de uma sociedade. Abrange conhecimentos, crenças, artes, normas, costumes e muitos outros elementos desenvolvidos e consolidados pelas coletividades humanas. mulheres do grupo musical Loiyangalani stars observam tela de computador durante ensaio para um festival. elas pertencem à etnia turkana, do Quênia. nesta imagem, há elementos culturais contrastantes? dAVId mbIyu/demotIX/corbIs/FotoArenA 148 Unidade 2 N—s e o mundo FILOVU-141-159-U2-C7.indd 148 4/6/16 5:29 PM Características gerais O arqueólogo norte-americano Robert Braidwood procurou indicar os principais elementos que caracterizam a cultura: A cultura é duradoura, embora os indivíduos que compõem um determinado grupo desapareçam. No entanto, a cultura também se modifica conforme mudam as normas e entendimentos. Quase se pode dizer que a cultura vive nas mentes das pessoas que a possuem. Mas as pessoas não nascem com ela; adquirem-na à medida que crescem. Suponha que um bebê húngaro recém-nascido seja adotado por uma família residente nos Estados Unidos, e que nunca digam a essa criança que ela é húngara. Ela crescerá tão alheia à cultura húngara quanto qualquer outro americano. Assim, quando falo da antiga cultura egípcia, refiro- -me a todo o conjunto de entendimentos, crenças e conhecimentos pertencentes aos antigos egípcios. Significa, por exemplo, tanto suas crenças sobre o que faz o trigo crescer quanto sua habilidade para fazer os implementos necessários à colheita. Ou seja, suas crenças a respeito da vida e da morte. Quando falo de cultura, estou pensando em algo que perdurou através do tempo. Se qualquer egípcio morresse, mesmo que fosse o faraó, isso não afetaria a cultura egípcia daquele momento determinado. (Homens pré-históricos, p. 41-42.) 
Vários estudiosos concordam com os elementos apontados pelo arqueólogo, caracterizando a cultura como:
• adquirida pela aprendizagem, e não herdada pelos instintos; 
• transmitida de geração a geração, por meio da linguagem, nas diferentes sociedades; 
• criação exclusiva dos seres humanos, incluindo a produção material e não material; 
• múltipla e variável, no tempo e no espaço, de sociedade para sociedade. Cultura e cotidiano Pensemos agora sobre a vida cotidiana de cada pessoa e sua relação com o universo cultural de que ela participa. Vimos que a cultura abrange um conjunto de conceitos, valores e atitudes que modelam uma comunidade. Assim, podemos dizer que todo indivíduo vive sob a influência de diversas culturas, não só de uma, pois participa de distintos grupos sociais e cada um deles lhe imprime sua marca particular. Vejamos um exemplo. Um brasileiro ou uma brasileira que tenha uma família, frequente uma igreja e trabalhe em uma empresa recebe influência de, pelo menos, quatro fontes culturais: a cultura popular brasileira (que, ampla e expressiva, porém não homogênea, pode ser dividida em diversas subculturas); a cultura familiar, basicamente transmitida por seus pais e avós; a cultura de seu grupo religioso; e a cultura organizacional desenvolvida em seu local de trabalho. Cada universo cultural de que uma pessoa participa influi de forma específica em sua maneira de pensar, sentir e agir, ou seja, em sua forma de ser e perceber a realidade no dia a dia. Ilustremos um pouco essa ideia: • Uma jovem criada em um país distante, de cultura muçulmana ortodoxa e que para sair à rua deve usar a burca (traje que cobre todo o corpo e o rosto da mulher, deixando apenas os olhos descobertos), provavelmente terá uma vivência social com seu corpo bem diferente da experiência de outra mulher que cresceu brincando seminua nas praias de Copacabana. • Também é provável que um menino criado no meio rural possa ver e distinguir muitas plantas em um jardim, enquanto um garoto de um centro urbano não identificaria nesse mesmo jardim mais que uma massa de vegetação. Jovens de uma “tribo urbana” (da Califórnia, EUA), expressão criada pelo sociólogo francês Michel Maffesoli (1944-). Nos grandes centros urbanos, nos defrontamos diariamente com uma diversidade de personagens, comportamentos, crenças e valores, formando diferentes microculturas. Seu estilo de vida pode nos parecer exótico ou estranho, se desconhecemos sua lógica. AllEN RUSSEll/GETTy IMAGES Cap’tulo 7 O ser humano 149 FILOVU-141-159-U2-C7.indd 149 4/14/16 12:45 PM então, se de um lado a cultura é uma criação coletiva dos grupos humanos através do tempo, de outro cada pessoa também é, em grande medida, uma criação diária e constante da cultura em que vive, desde o instante de seu nascimento. o curioso é que quase não nos damos conta disso, pois a cultura à qual pertencemos é praticamente invisível para nós em nosso cotidiano. Presença invisível em geral, vivemos dentro de nossa cultura num fluir contínuo, como se nosso modo de ser fosse igual para todas as pessoas e as diversas coisas do mundo fossem sempre vividas assim, da forma com que nós as experimentamos. somos como um peixe que nasceu dentro de um aquário e que toma esse ambiente como o mundo e seu modo “aquático” de ser como o único existente. esse estado habitual de nossas vidas vê-se confrontado, no entanto, quando viajamos para outros estados ou para fora do país. no contato com os habitantes locais, percebemos uma série de diferenças no modo de falar, comer, vestir e relacionar-se. nesse instante, ocorre em nós um estranhamento (observe que as palavras estranho e estrangeiro têm a mesma origem latina: “o que é de fora”). A percepção desses elementos culturais distintos, que estão “fora de nós”, quebra a transparência e invisibilidade de nossa própria cultura. temos, então, a possibilidade de “ver” nossas próprias características culturais: como nos vestimos, comemos, pensamos, nos relacionamos etc. mas, depois que voltamos ao nosso cotidiano, nossa cultura tende a tornar-se novamente transparente e invisível para nós. e retomamos assim a “normalidade” de nossas vivências. A dificuldade de estar consciente da própria cultura é análoga à dificuldade que qualquer pessoa tem para reconhecer o próprio sotaque. para o brasileiro, quem tem sotaque é o português; para o português, quem tem sotaque é o brasileiro. não conseguimos perceber nosso próprio sotaque, só o do outro, porque foi essa maneira de pronunciar as palavras que cada um escutou e repetiu desde a mais tenra idade. como consequência, o indivíduo pensa, mesmo que não de forma consciente: “eu falo normal. os outros é que falam esquisito”. na cultura em geral ocorre algo semelhante: a pessoa percebe e aprende do grupo cultural do qual participa, por imitação e de forma quase inconsciente, boa parte de como deve pensar e agir nas mínimas coisas – o que é bonito ou feio, o que é adequado ou inadequado, o que é possível ou impossível, como é a vida, como são as pessoas, que coisas são importantes, entre tantas outras. em geral, isso ocorre primeiro dentro da própria família e, depois, no contato com a vizinhança, na escola em que estuda, na igreja que frequenta, na empresa onde trabalha, e assim por diante. essa assimilação cultural ocorre de forma tão “transparente” que dificilmente percebemos que estamos aprendendo algo com alguém ou em dada situação. e aqueles que nos transmitem esses ensinamentos nem sempre se dão conta de que nos estão repassando sua maneira de ser e de viver, o que você acharia de morar em uma ilha de totora (uma espécie de junco) feita por você mesmo e sua família? e de navegar em um barco também fabricado com essa planta? É o que faz essa mulher dos uros, povo que constrói e habita ilhas flutuantes do lago titicaca, no lado do peru.

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