Boa noite pessoal! Tudo bem?
Vamos a mais uma atividade, ok?
A nossa atividade baseia se na leitura do texto e responder o que se pede.
Adotei esse autor, poque acho que ele explica com maior facilidade o assunto.
Façam a leitura, e respondam as atividades no caderno das pg 197 e 199.
Bons estudos!
Um abraço a todos!
Capitulo 10 O conhecimento
ou Gnosiologia (Fundamentos de filosofia: Gilberto Cotrim)
A investigação sobre o conhecer
muito engano e ilusão naquilo que uma pessoa pensa
conhecer, como apontaram Descartes e sócrates
(conforme vimos nos capítulos 2 e 3, respectivamente),
entre outros. Portanto, é preciso ir bem
mais “fundo” nesse assunto e tentar entender mais
profundamente o processo de conhecer.
foi o que fizeram diversos filósofos, em sua
busca incessante por compreender a si mesmos e
o mundo à sua volta. nesse intento, chegaram à
conclusão de que era necessário investigar primeiro
a própria faculdade de conhecer do ser humano,
antes de confiar plenamente na percepção e na
compreensão que alcançavam das coisas.
Questões básicas
Desde a antiguidade grega, grande parte dos
pensadores voltou-se para o problema do conhecimento
e das questões básicas que o envolvem,
dando origem a diversas gnosiologias ou teorias
do conhecimento.
nesse sentido, podemos dizer que existem tantas
teorias do conhecimento quantos foram os filósofos
que se preocuparam com o problema, pois é
impossível constatar total coincidência de concepções
mesmo entre filósofos que habitualmente são
classificados em uma mesma escola ou corrente.
apesar dessa diversidade, podemos dizer que
as questões que concentraram a atenção desses
teóricos foram principalmente as seguintes:
• relação sujeito-objeto – como é a atividade do
sujeito do conhecimento em relação ao objeto
conhecido;
• fontes primeiras – qual é a origem ou o ponto
de partida do conhecimento;
• processo – como os dados se transformam em
ideias, em juízos etc.;
• possibilidades – o que podemos conhecer de
forma verdadeira.
cada teoria do conhecimento constitui, portanto,
uma reflexão filosófica que procura investigar as
origens ou os fundamentos, as possibilidades, a
extensão e o valor do conhecimento.
apesar de constituir uma reflexão antiga, foi somente
a partir da Idade moderna que a gnosiologia
passou a ser tratada como uma das disciplinas
centrais da filosofia. nesse processo de valorização,
colaboraram de forma decisiva, além de Descartes,
os filósofos John Locke e Immanuel Kant, conforme
veremos adiante.
garoto examina cuidadosamente uma dioneia, planta
insetívora. a partir da ação que executa, em que estará
baseado o conhecimento que pode construir dessa planta?
brItaIn onVIEw/gEtty ImagEs
Gnosiologia é o campo de estudos filosóficos
que se dedica à questão do conhecimento. Essa
área também é conhecida como teoria do conhecimento,
epistemologia ou crítica do conhecimento.
mas o que é conhecimento? o que queremos dizer
quando falamos em conhecimento?
a palavra conhecimento pode ter diferentes
acepções, conforme o contexto. anteriormente,
fizemos a distinção entre conhecimento em um
sentido geral (lato sensu) e em um sentido estrito
(stricto sensu), que é o conhecimento fundamentado
e, por isso, supostamente verdadeiro (se necessário,
reveja esse trecho do capítulo 4).
agora, precisamos refinar um pouco mais nossa
definição, tendo em vista a investigação deste capítulo.
assim, vamos partir da concepção básica e
comum de que conhecimento é a apresentação
verídica ou adequada de algo (o objeto) ao pensamento
(o sujeito), mesmo que de forma parcial.
se, por exemplo, alguém diz “navio” e aparece
em minha mente algo que corresponde ao objeto
navio, eu tenho um conhecimento, mesmo que
vago. mas, se dizem “navio” e me vem ao espírito
algo que não corresponde ao objeto navio (por
exemplo, um pato), eu não tenho um conhecimento,
isto é, o objeto navio não se apresenta em
minha mente de forma verídica (como ele é de
verdade) ou adequada.
Isso parece simples, mas não é bem assim. Existem
graus distintos de conhecimento e também há
192 Unidade 2 N—s e o mundo
Representacionismo
a definição de conhecimento dada anteriormente
(apresentação verídica ou adequada de algo
ao pensamento) corresponde à interpretação predominante
no pensamento moderno, que entende o
conhecimento como representação.
Isso quer dizer que conhecer seria representar
o que é exterior à mente. seria obter uma
“imagem” ou “reprodução” do mundo externo,
projetada na consciência. conhecer um pássaro,
por exemplo, consistiria em formar uma representação,
uma “imagem adequada” desse pássaro
em nossa mente.
nesse entendimento, a mente constitui uma
espécie de “espelho da natureza” – metáfora sugerida
pelo filósofo estado-unidense richard rorty
(1931-2007), um crítico da interpretação representacionista
do conhecimento. assim, para conhecer
as coisas como elas realmente são bastaria “polir”
metodicamente esse “espelho” (a mente e seus
processos), como tentaram fazer a filosofia e a
ciência moderna.
A condição humana (1935) – rené magritte. na interpretação
tradicional – que pertence também ao senso comum–, o
conhecimento perfeito é aquele em que a representação é
idêntica à realidade, como a imagem de um espelho.
coleção Particular
Relação sujeito-objeto
Portanto, de acordo com a visão tradicional e representacionista
do conhecimento, há basicamente
dois polos no processo de conhecer:
• o sujeito conhecedor (nossa consciência, nossa
mente); e
• o objeto conhecido (a realidade, o mundo, os inúmeros
fenômenos).
Dependendo do papel que uma teoria do conhecimento
atribui a cada um desses polos, podemos
classificá-la como realista ou idealista. Vejamos
cada uma dessas possibilidades.
Realismo
De acordo com as teorias realistas do conhecimento,
as percepções que temos dos objetos são
reais, ou seja, correspondem de fato às características
presentes nesses objetos, na realidade. Por
exemplo: as formas e cores que o sujeito percebe
no pássaro são cores e formas que o pássaro realmente
possui em si. observe que a concepção do
senso comum é basicamente realista.
assim, no realismo mais ingênuo (ou menos
crítico), o conhecimento ocorre por uma apreensão
imediata das características dos objetos, isto é, os
objetos mostram-se ao sujeito que os percebe como
realmente são, determinando o conhecimento que
então se estabelece.
Há, no entanto, outras formas mais críticas
de realismo, que problematizam a relação
sujeito -objeto, porém mantêm a ideia básica
de que o objeto é determinante no processo de
conhecimento.
Observação
Diversos pensadores contemporâneos questionaram
o representacionismo, bem como
as visões gnosiológicas que polarizam sujeito-
objeto. Esse questionamento deu origem
a outras correntes de interpretações sobre o
processo de conhecer, como o pragmatismo
(que veremos adiante) e a fenomenologia (que
estudaremos no capítulo 17).
1. Interprete a pintura de magritte. É possível
relacioná-la com a concepção do conhecimento
como representação? Em sua opinião,
as representações podem ser idênticas à realidade?
Justifique.
COnexões
Capítulo 10 O conhecimento 193
Idealismo
Já nas teorias idealistas do conhecimento, é o
sujeito que predomina em relação ao objeto, isto é,
a percepção da realidade é produzida pelas nossas
ideias, pela nossa consciência. Em outras palavras,
os objetos seriam “construídos” de acordo com a
capacidade de percepção do sujeito.
como consequência dessa interpretação, o que
existe realmente é a representação que o sujeito faz
do objeto. Por exemplo: as formas e cores que o sujeito
percebe no pássaro nada mais são que ideias
ou representações desses atributos; não entra em
questão se elas realmente existem no pássaro.
também no idealismo há posições mais ou
menos radicais em relação à afirmação do sujeito
como elemento determinante na relação
de conhecimento.
1. Para que os filósofos investigam o processo do
conhecimento?
2. analise a relação entre conhecimento e representação,
de acordo com a tese representacionista.
3. Quais são os polos tradicionalmente identificados
no processo do conhecimento? Explique cada um
deles e sua relação.
4. confronte o idealismo com o realismo.
1. Realismo versus idealismo
Qual doutrina faz mais sentido para você: a realista ou a idealista? reflita sobre essa questão considerando
sua maneira de se relacionar e compreender o mundo e qual epistemologia traz implícita. Depois reúna-se
com colegas e procure argumentar defendendo sua posição.
análise e entendimento
Conversa fIlosófIca
Fontes primeiras
Razão ou sensação?
Vejamos agora outra questão básica enfrentada
pela gnosiologia: qual é a fonte, o ponto de partida
dos conhecimentos? De onde se originam as ideias,
os conceitos, as representações?
De acordo com as respostas dadas a esse problema,
destacam-se basicamente duas correntes
filosóficas: o racionalismo e o empirismo. mas
existe também uma terceira posição, o apriorismo
kantiano, que conjuga de alguma maneira essas
duas correntes. Vejamos cada uma.
Racionalismo
a palavra racionalismo deriva do latim ratio,
que significa “razão”, e é empregada em diversos
sentidos. no contexto das teorias do conhecimento,
racionalismo designa a doutrina que atribui exclusiva
confiança à razão humana como instrumento
capaz de conhecer a verdade. como advertia um
dos principais filósofos racionalistas, René Descartes
(1596-1650), não devemos nos deixar
persuadir senão pela evidência de nossa razão
(conforme vimos no capítulo 2).
Essa preferência se deve principalmente à
compreensão, pelos racionalistas, de que a experiência
sensorial é uma fonte permanente de
erros e confusões sobre a complexa realidade do
mundo. assim, para eles, somente a razão humana,
trabalhando de acordo com os princípios
lógicos, pode atingir o conhecimento verdadeiro,
capaz de ser universalmente aceito.
Para o racionalismo, os princípios lógicos
fundamentais seriam inatos, isto é, já estariam
na mente do ser humano desde o nascimento.
Daí a razão ser concebida como a fonte básica
do conhecimento.
empirismo
a palavra empirismo tem sua origem no grego
empeiria, que significa “experiência”. as teorias
empiristas defendem a tese de que todas as nossas
ideias são provenientes da experiência e, em última
instância, de nossas percepções sensoriais (visão,
audição, tato, paladar, olfato).
Portanto, para defensores do empirismo, não
existem as ideias inatas. como afirmava um dos
principais teóricos dessa corrente, o filósofo inglês
John Locke (1632-1704), nada vem à mente sem
ter passado antes pelos sentidos.
Isso quer dizer que ao nascermos nossa mente
é como um papel em branco (ou tábula rasa,
194 Unidade 2 N—s e o mundo
expressão usada pelo pensador), desprovida de
qualquer ideia. (Estudaremos o pensamento de
Locke com mais detalhes no capítulo 15.)
De onde provém, então, o vasto conjunto de
ideias que existe na mente humana? o filósofo
responde: da experiência. a experiência, segundo
Locke, fundamenta o conhecimento por meio de
duas operações:
• sensação – que leva para a mente as várias e
distintas percepções das coisas, sendo, por isso,
bastante dependente dos sentidos;
• reflexão – que consiste nas operações internas
da nossa mente, pelas quais se desenvolvem
as ideias primeiras fornecidas pelos
sentidos.
Afirmo que estas duas, a saber, as coisas materiais
externas, como objeto da sensação, e as operações
de nossas próprias mentes, como objeto da reflexão,
são, a meu ver, os únicos dados originais dos quais as
ideias derivam. (Locke, Ensaio acerca do entendimento
humano, p. 160.)
alegoria dos cinco sentidos. Para o empirista,
todo conhecimento está baseado na experiência
sensorial. Depende, portanto, em última
análise, de um ou mais de nossos sentidos.
ImagEs.com/corbIs/fotoarEna
apriorismo kantiano
nem todos os filósofos aderiram ao racionalismo ou ao empirismo. alguns buscaram um meio-termo
para essas visões tão opostas. É o caso do apriorismo kantiano, formulado pelo filósofo alemão Immanuel
Kant (1724-1804).
Catedral de Rouen de manhã cedo.
nessas pinturas da catedral de rouen (1892-1894), claude monet retrata não a catedral (a coisa em si, no dizer de Kant), mas a
catedral tal como é apreendida pelo pintor com as variações de luz de um dia (o fenômeno).
Catedral de Rouen ao meio-dia. Catedral de Rouen à luz do sol.
musÉE D'orsay, ParIs, frança
PusHKIn musEum, moscou, rússIa
cLarK art InstItutE, wILLIamstown, Eua
Cap’tulo 10 O conhecimento 195
Kant afirmava que todo conhecimento começa
com a experiência, mas que a experiência sozinha
não nos dá o conhecimento. ou seja, é preciso um
trabalho do sujeito para organizar os dados da experiência.
assim, o filósofo buscou saber como é
o sujeito a priori, isto é, antes de qualquer experiência.
concluiu que o ser humano possui certas
faculdades ou estruturas (as quais ele denomina
formas da sensibilidade e do entendimento) que
não apenas possibilitam a experiência, mas também
determinam o conhecimento.
Para Kant, portanto, a experiência fornece a
matéria do conhecimento (os seres do mundo),
enquanto a razão organiza essa matéria de
acordo com suas formas próprias, as estruturas
existentes a priori no pensamento – daí o nome
apriorismo. Isso significa que o sujeito acaba
sendo o centro do processo de conhecer, e não o
objeto, motivo pelo qual essa doutrina é também
conhecida como idealismo transcendental. (Estudaremos
o pensamento de Kant com mais detalhes
no capítulo 15.)
5. ao nascermos, nossa mente é como um papel em branco. Explique essa afirmação, quem a formulou e a que corrente pertence.
6. somente devemos deixar-nos persuadir pela evidência de nossa razão. comente essa frase.
7. De que maneira Kant resolve o impasse criado por racionalistas e empiristas?
2. Razão ou experiência?
“Penso, logo existo.” Esse conhecimento a que chegou Descartes está fundado na razão ou na experiência?
reúna-se com colegas para debater esse tema.
análise e entendimento
Conversa filosófica
possibilidades
O que podemos conhecer?
Vejamos por último uma das mais importantes
questões da gnosiologia: somos capazes de conhecer
a verdade? É possível ao sujeito apreender
o objeto? afinal, quais são as possibilidades do
conhecimento humano?
as respostas dadas a essas questões levaram
ao surgimento de duas correntes básicas e antagônicas
na história da filosofia. uma é o ceticismo,
que diagnostica a impossibilidade de conhecermos
a verdade. a outra é o dogmatismo, que defende a
possibilidade de conhecermos a verdade.
Conceito de verdade
mas o que queremos dizer por verdade? Que
verdade é essa da qual tratam tantos pensadores?
a palavra verdade tem o sentido básico de uma
correspondência entre o que se pensa ou se diz e
a realidade que se quer conhecer ou expressar.
É o mesmo que conhecimento verdadeiro.
no entanto, quando os diversos filósofos que
tratam da temática do conhecimento falam em
“conhecer a verdade”, estão se referindo não só
a esse sentido básico, mas também – e principalmente
– à ideia de conhecer como o objeto é
em sua essência, ou seja, sua realidade intrínseca.
trata-se de conhecer o ser, a realidade essencial
e metafísica das coisas (conforme estudamos
no capítulo 6).
se, por exemplo, um pássaro parece azul para
algumas pessoas e verde-azulado para outras,
qual será a cor verdadeira desse pássaro? será
possível conhecer a verdade?
Vejamos algumas das respostas dadas a essa
pergunta. Destacaremos, além das correntes do
ceticismo e do dogmatismo, uma terceira posição,
o criticismo, que tenta superar o impasse criado
por essas posições antagônicas.
dogmatismo
uma doutrina é dogmática quando, como dissemos,
defende a possibilidade de atingirmos a
verdade. Essa interpretação pode seguir duas
variantes:
• dogmatismo ingênuo – tendência que confia
plenamente nas possibilidades do nosso conhecimento
(predominante no senso comum). não
196 Unidade 2 N—s e o mundo
vê problema na relação sujeito conhecedor e
objeto conhecido. crê que, sem grandes dificuldades,
percebemos o mundo tal qual ele é;
• dogmatismo crítico – tendência que defende
nossa capacidade de conhecer a verdade mediante
um esforço conjugado de nossos sentidos
e de nossa inteligência. assim, confia que, por
meio de um trabalho metódico, racional e científico,
o ser humano torna-se capaz de conhecer
a realidade do mundo.
Ceticismo
uma doutrina é cética quando duvida da possibilidade
de conhecermos a verdade ou nega essa
possibilidade. Essa interpretação também pode
seguir duas vertentes básicas, uma absoluta e outra
relativa. Vejamos cada uma delas.
Ceticismo absoluto
muitos consideram o filósofo grego Górgias
(c. 485-380 a.c.) o pai do ceticismo absoluto. Ele
defendia as seguintes ideias: o ser não existe; se
existisse, não poderíamos conhecê-lo; e, se pudéssemos
conhecê-lo, não poderíamos comunicá-lo
aos outros.
outros estudiosos apontam o filósofo grego
Pirro (365-275 a.c.) como o fundador do ceticismo
absoluto. Por isso, chama-se muitas vezes o
ceticismo de pirronismo. Pirro afirmava ser impossível
ao ser humano conhecer a verdade devido
a duas fontes principais de erro:
• os sentidos – o filósofo dizia que nossos conhecimentos
são provenientes dos sentidos (visão, audição,
olfato, tato, paladar), mas estes não são dignos
de confiança, pois podem nos induzir ao erro;
• a razão – Pirro explicava que as diferentes e contraditórias
opiniões manifestadas pelas pessoas
sobre os mesmos assuntos revelam os limites de
nossa inteligência, razão pela qual jamais alcançaremos
a certeza de qualquer coisa.
o ceticismo absoluto despertou muita oposição.
seus críticos consideram-no uma doutrina radical,
estéril e contraditória. radical porque nega totalmente
a possibilidade de conhecer. Estéril porque
não leva a nada. contraditória porque, ao dizer que
nada é verdadeiro, acaba afirmando que pelo menos
existe algo de verdadeiro, isto é, o conhecimento
de que nada é verdadeiro.
O violinista verde (1923-1924) – marc chagall. a relatividade
da experiência sensorial: como explicam diversos estudiosos,
a percepção das cores não é apenas um fenômeno físico e
neurológico, que varia entre as pessoas e entre as espécies,
mas também cultural.
guggEnHEIm musEum, nEw yorK, Eua
Isto não é uma
maçã (1964) – rené
magritte. Procurando
expressar o problema
filosófico da relação
do conhecimento
com a realidade, o
pintor belga compôs
este quadro, que
faz parte da série
conhecida como “a
traição das imagens”.
coLEção PartIcuLar
Cap’tulo 10 O conhecimento 197
Ceticismo relativo
como o próprio nome diz, o ceticismo relativo
consiste em negar apenas parcialmente nossa capacidade
de conhecer a verdade. ou seja, apresenta
uma posição moderada em relação às possibilidades
de conhecimento se comparado ao ceticismo
absoluto. Entre as doutrinas que manifestam
um ceticismo relativo, destacamos as seguintes:
• o subjetivismo – doutrina que considera o conhecimento
uma relação puramente subjetiva e
pessoal entre o sujeito e a realidade percebida.
o conhecimento limita-se às ideias e representações
elaboradas pelo sujeito pensante, sendo impossível
alcançar a objetividade. o subjetivismo
nasce com o pensamento do grego Protágoras,
sofista do século V a.c., que dizia que “o homem é
a medida de todas as coisas”, ou seja, a verdade é
uma construção humana, ela não está nas coisas;
• o relativismo – doutrina que considera não existirem
verdades absolutas, mas apenas verdades
relativas a certo tempo, a determinado espaço
social, enfim, a um contexto histórico;
• o probabilismo – doutrina que propõe que nosso
conhecimento é incapaz de atingir a certeza plena;
tudo o que podemos alcançar é uma verdade provável.
Essa probabilidade pode ser digna de maior
ou menor credibilidade, mas nunca chegará ao
nível da certeza completa, da verdade absoluta;
• o pragmatismo – doutrina que concebe os humanos
como seres práticos, ativos, não apenas como
seres pensantes. Por isso, para nós, verdadeiro é
aquilo que é útil, eficaz, que dá certo, que serve
aos interesses das pessoas em sua vida prática.
ou seja, o que chamamos de verdade é mais a
correspondência do pensamento com o objetivo
a ser atingido do que a correspondência do pensamento
com o objeto propriamente dito. assim,
para richard rorty, um expoente dessa corrente,
[…] interpretar alguma coisa, conhecer alguma coisa,
penetrar em sua essência, e assim por diante, tudo isso
são apenas diversas formas de descrever um processo
para fazê-la funcionar. (A trajetória do pragmatista.
Em eco, Interpretação e superinterpretação, p. 110.)
funDação gaLa/saLVaDor DaLI, fIguEras, EsPanHa
Galátea das esferas
(1952) – salvador Dalí,
óleo sobre tela. com sua
crítica da razão, Kant
realizou uma “revolução
copernicana” na filosofia,
pois propôs que os objetos
são regulados pelas
formas a priori de nosso
conhecimento, e não o
contrário, como sempre
se supôs. Isso quer dizer
que o que conhecemos é a
“realidade para nós”, não
a “realidade em si”. nós
a construímos a partir de
nossas próprias estruturas
de sensibilidade e
entendimento, como as
várias esferas do quadro
de Dalí compõem uma
“galáxia”, um mundo com
forma de rosto feminino
(de gala Éluard Dalí).
198 Unidade 2 N—s e o mundo
Criticismo
teoria filosófica desenvolvida por Kant, o criticismo
constitui uma tentativa de superação do
impasse criado entre o ceticismo e o dogmatismo,
assim como o foi entre o empirismo e o racionalismo.
tal como o dogmatismo, a filosofia
crítica acredita na possibilidade do conhecimento,
mas se indaga sobre as reais condições nas
quais esse conhecimento seria possível. trata-
-se, portanto, de uma posição crítica diante da
possibilidade de conhecer.
o resultado dessa postura leva a uma distinção
entre o que o nosso entendimento pode conhecer
e o que não pode. ou seja, o criticismo admite a
possibilidade de conhecer, mas esse conhecimento
é limitado e ocorre sob condições específicas,
apresentadas por Kant na obra Crítica da razão
pura (conforme veremos no capítulo 15).
Depois de Kant, muitos outros pensadores se
debruçaram sobre o problema do conhecimento,
trazendo novas contribuições a essa discussão.
como você pode perceber, da mesma forma que
nos outros temas que estudamos anteriormente,
a questão do conhecimento é mais um assunto
que escapa a uma palavra final e definitiva.
8. Explique o conceito de verdade.
9. Para o filósofo francês Jacques maritain (1882-
-1973), aqueles que duvidam plenamente da
possibilidade de conhecer “só poderiam filosofar
guardando um silêncio absoluto – mesmo no
interior de suas almas” (Introdução geral à filosofia,
p. 120). comente essa afirmação.
10. Em que sentido o criticismo representou uma
tentativa de superação do impasse criado pelo
ceticismo e pelo dogmatismo?
3. Senso comum e conhecimento
a noção de conhecimento do senso comum é, em geral, realista e dogmática, embora as pessoas não se
deem conta disso. Você concorda com essa afirmação? fundamente sua opinião. Depois reúna-se com
seus colegas para debater esse assunto.
análIse e entendImentO
COnveRsa fIlOsófICa
(uncisal) no século XVIII, o filósofo Emanuel Kant formulou as hipóteses de seu idealismo transcendental.
segundo Kant, todo conhecimento logicamente válido inicia-se pela experiência, mas é construído internamente
por meio das formas a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e pelas categorias lógicas do entendimento.
Dessa maneira, para Kant, não é o objeto que possui uma verdade a ser conhecida pelo sujeito cognoscente,
mas sim o sujeito que, ao conhecer o objeto, nele inscreve suas próprias coordenadas sensíveis e intelectuais.
De acordo com a filosofia kantiana, pode-se afirmar que:
a) a mente humana é como uma tabula rasa, uma folha em branco que recebe todos os seus conteúdos
da experiência.
b) os conhecimentos são revelados por Deus para os homens.
c) todos os conhecimentos são inatos, não dependendo da experiência.
d) Kant foi um fi lósofo da antiguidade.
e) para Kant, o centro do processo de conhecimento é o sujeito, não o objeto.
PROPOSTAS FINAIS
de olho na universidade
Cap’tulo 10 O conhecimento 199
Descartes (1974, Itália, direção de roberto rossellini)
obra sobre a vida de Descartes e a sua busca pelo conhecimento. Inclui o processo de escritura e publicação
de alguns de seus principais livros e os debates em torno de suas ideias.
Sócrates (1971, Itália/Espanha/frança, direção de roberto rossellini)
representação do final da vida de sócrates, seu julgamento e condenação à morte. mostra o filósofo
andando por atenas, acompanhado de seus discípulos, exercitando seus diálogos (maiêutica) em busca
do conhecimento.
sessão cinema
os textos que seguem tratam do tema da origem do conhecimento. Leia-os atentamente e responda
às questões.
1. a luz da razão
a certeza de pensar
Assim, porque os nossos sentidos nos enganam às vezes, quis supor que não havia coisa alguma que
fosse tal como eles nos fazem imaginar. [...] E, enfim, considerando que todos os mesmos pensamentos
que temos quando despertos nos podem também ocorrer quando dormimos, sem que haja nenhum, nesse
caso, que seja verdadeiro, resolvi fazer de conta que as coisas que até então haviam entrado no meu espírito
não eram mais verdadeiras que as ilusões de meus sonhos. Mas, logo em seguida, percebi que, enquanto eu
queria assim pensar que tudo era falso, seria necessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, notando
que esta verdade: eu penso, logo existo era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições
dos céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro
princípio da filosofia que procurava.
a substância pensante
Depois, examinando com atenção o que eu era, e vendo que podia supor que não tinha corpo algum e que
não havia qualquer mundo, ou qualquer lugar onde eu existisse, mas que nem por isso podia supor que não
existia; e que, ao contrário, pelo fato mesmo de eu pensar em duvidar da verdade das outras coisas seguia-se
mui evidente e mui certamente que eu existia; [...] compreendi por aí que era uma substância cuja essência
ou natureza consiste apenas no pensar, e que, para ser, não necessita de nenhum lugar, nem depende de
qualquer coisa material. De sorte que esse eu, isto é, a alma, pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta
do corpo e, mesmo, que é mais fácil de conhecer do que ele, e, ainda que este nada fosse, ela não deixaria
de ser tudo o que é.
as ideias de deus e da alma
Mas o que leva muitos a se persuadirem de que há dificuldade em conhecer a Deus e mesmo também em
conhecer o que é sua alma é o fato de nunca elevarem o espírito além das coisas sensíveis e de estarem de
tal modo acostumados a nada considerar senão imaginando, que é uma forma de pensar particular às coisas
materiais, que tudo quanto não é imaginável lhes parece não ser inteligível. E isto é assaz manifesto pelo fato
de os próprios filósofos terem por máxima, nas escolas, que nada há no entendimento que não haja estado
primeiramente nos sentidos, onde todavia é certo que as ideias de Deus e da alma jamais estiveram. E me
parece que todos os que querem usar a imaginação para compreendê-las procedem do mesmo modo que se,
para ouvir os sons ou sentir os odores, quisessem servir-se dos olhos; exceto com esta diferença ainda: que
o sentido da vista não nos garante menos a verdade de seus objetos do que os do olfato ou da audição; ao
passo que a nossa imaginação ou os nossos sentidos nunca poderiam assegurar-nos de qualquer coisa, se o
nosso entendimento não interviesse.
Descartes, Discurso do método, quarta parte; intertítulos nossos.
2. as ideias são cópias das impressões e sensações
[...] quando analisamos nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos e sublimes que sejam, sempre
descobrimos que se resolvem em ideias simples que são cópias de uma sensação ou sentimento anterior. Mesmo
para pensar
200 Unidade 2 N—s e o mundo
as ideias que, à primeira vista, parecem mais afastadas dessa origem mostram, a um exame mais atento,
ser derivadas dela. A ideia de Deus, correspondendo a um Ser infinitamente inteligente, sábio e bom,
surge das reflexões que fazemos sobre as operações de nossa própria mente, aumentando sem limites
essas qualidades de bondade e sabedoria. Podemos prosseguir esse exame tanto quanto desejarmos, e
sempre descobriremos que todas as ideias que examinamos são copiadas de uma impressão semelhante.
Aqueles que afirmam que essa posição não é universalmente verdadeira, nem sem exceções, têm apenas
um único e bastante fácil método de refutá-la: apresentar uma ideia que em sua opinião não seja derivada
dessa fonte. Caberá então a nós, se quisermos sustentar nossa doutrina, indicar a impressão ou percepção
viva que lhe corresponda.
Hume, Investigação acerca do entendimento humano, seção II, p. 14.
3. da distinção entre conhecimento puro e empírico
as fontes do conhecimento
Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a experiência [...]. Mas embora todo
o nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo ele se origina justamente da experiência.
Pois poderia bem acontecer que mesmo o nosso conhecimento de experiência seja um composto
daquilo que recebemos por impressões e daquilo que a nossa própria faculdade de conhecimento
(apenas provocada por impressões sensíveis) fornece de si mesma, cujo acréscimo não distinguimos
daquela matéria-prima antes que um longo exercício nos tenha chamado a atenção para ele e nos tenha
tornado aptos a abstraí-lo.
Os conhecimentos a priori e a posteriori
Portanto, é uma questão que requer pelo menos uma investigação mais pormenorizada e que não pode
ser logo despachada devido aos ares que ostenta, a saber, se há um tal conhecimento independente da
experiência e mesmo de todas as impressões dos sentidos. Tais conhecimentos denominam-se a priori e
distinguem-se dos empíricos, que possuem suas fontes a posteriori, ou seja, na experiência.
[...] por conhecimentos a priori entenderemos não os que ocorrem independente desta ou daquela
experiência, mas absolutamente independente de toda a experiência. Opõem-se os conhecimentos empíricos
ou aqueles que são possíveis apenas a posteriori, isto é, por experiência.
kant, Crítica da razão pura, Introdução; intertítulos nossos.
1. Identifique a posição de cada um desses três filósofos no que se refere à origem do conhecimento.
Justifique sua resposta usando trechos dos textos citados.
2. como Descartes refuta o empirismo usando as ideias de Deus e da alma?
3. De acordo com Hume, como desenvolvemos a ideia de Deus, refutando o argumento de Descartes?
4. o que são, de acordo com Kant, conhecimentos a priori e conhecimentos a posteriori? Qual é a sua
origem? Procure exemplos.
5. após o estudo e o entendimento desses três textos, o que você pensa sobre a origem do conhecimento?
Qual argumentação você considerou mais convincente? reúna-se com colegas para
debater sobre esse tema.
Vamos a mais uma atividade, ok?
A nossa atividade baseia se na leitura do texto e responder o que se pede.
Adotei esse autor, poque acho que ele explica com maior facilidade o assunto.
Façam a leitura, e respondam as atividades no caderno das pg 197 e 199.
Bons estudos!
Um abraço a todos!
Capitulo 10 O conhecimento
ou Gnosiologia (Fundamentos de filosofia: Gilberto Cotrim)
A investigação sobre o conhecer
muito engano e ilusão naquilo que uma pessoa pensa
conhecer, como apontaram Descartes e sócrates
(conforme vimos nos capítulos 2 e 3, respectivamente),
entre outros. Portanto, é preciso ir bem
mais “fundo” nesse assunto e tentar entender mais
profundamente o processo de conhecer.
foi o que fizeram diversos filósofos, em sua
busca incessante por compreender a si mesmos e
o mundo à sua volta. nesse intento, chegaram à
conclusão de que era necessário investigar primeiro
a própria faculdade de conhecer do ser humano,
antes de confiar plenamente na percepção e na
compreensão que alcançavam das coisas.
Questões básicas
Desde a antiguidade grega, grande parte dos
pensadores voltou-se para o problema do conhecimento
e das questões básicas que o envolvem,
dando origem a diversas gnosiologias ou teorias
do conhecimento.
nesse sentido, podemos dizer que existem tantas
teorias do conhecimento quantos foram os filósofos
que se preocuparam com o problema, pois é
impossível constatar total coincidência de concepções
mesmo entre filósofos que habitualmente são
classificados em uma mesma escola ou corrente.
apesar dessa diversidade, podemos dizer que
as questões que concentraram a atenção desses
teóricos foram principalmente as seguintes:
• relação sujeito-objeto – como é a atividade do
sujeito do conhecimento em relação ao objeto
conhecido;
• fontes primeiras – qual é a origem ou o ponto
de partida do conhecimento;
• processo – como os dados se transformam em
ideias, em juízos etc.;
• possibilidades – o que podemos conhecer de
forma verdadeira.
cada teoria do conhecimento constitui, portanto,
uma reflexão filosófica que procura investigar as
origens ou os fundamentos, as possibilidades, a
extensão e o valor do conhecimento.
apesar de constituir uma reflexão antiga, foi somente
a partir da Idade moderna que a gnosiologia
passou a ser tratada como uma das disciplinas
centrais da filosofia. nesse processo de valorização,
colaboraram de forma decisiva, além de Descartes,
os filósofos John Locke e Immanuel Kant, conforme
veremos adiante.
garoto examina cuidadosamente uma dioneia, planta
insetívora. a partir da ação que executa, em que estará
baseado o conhecimento que pode construir dessa planta?
brItaIn onVIEw/gEtty ImagEs
Gnosiologia é o campo de estudos filosóficos
que se dedica à questão do conhecimento. Essa
área também é conhecida como teoria do conhecimento,
epistemologia ou crítica do conhecimento.
mas o que é conhecimento? o que queremos dizer
quando falamos em conhecimento?
a palavra conhecimento pode ter diferentes
acepções, conforme o contexto. anteriormente,
fizemos a distinção entre conhecimento em um
sentido geral (lato sensu) e em um sentido estrito
(stricto sensu), que é o conhecimento fundamentado
e, por isso, supostamente verdadeiro (se necessário,
reveja esse trecho do capítulo 4).
agora, precisamos refinar um pouco mais nossa
definição, tendo em vista a investigação deste capítulo.
assim, vamos partir da concepção básica e
comum de que conhecimento é a apresentação
verídica ou adequada de algo (o objeto) ao pensamento
(o sujeito), mesmo que de forma parcial.
se, por exemplo, alguém diz “navio” e aparece
em minha mente algo que corresponde ao objeto
navio, eu tenho um conhecimento, mesmo que
vago. mas, se dizem “navio” e me vem ao espírito
algo que não corresponde ao objeto navio (por
exemplo, um pato), eu não tenho um conhecimento,
isto é, o objeto navio não se apresenta em
minha mente de forma verídica (como ele é de
verdade) ou adequada.
Isso parece simples, mas não é bem assim. Existem
graus distintos de conhecimento e também há
192 Unidade 2 N—s e o mundo
Representacionismo
a definição de conhecimento dada anteriormente
(apresentação verídica ou adequada de algo
ao pensamento) corresponde à interpretação predominante
no pensamento moderno, que entende o
conhecimento como representação.
Isso quer dizer que conhecer seria representar
o que é exterior à mente. seria obter uma
“imagem” ou “reprodução” do mundo externo,
projetada na consciência. conhecer um pássaro,
por exemplo, consistiria em formar uma representação,
uma “imagem adequada” desse pássaro
em nossa mente.
nesse entendimento, a mente constitui uma
espécie de “espelho da natureza” – metáfora sugerida
pelo filósofo estado-unidense richard rorty
(1931-2007), um crítico da interpretação representacionista
do conhecimento. assim, para conhecer
as coisas como elas realmente são bastaria “polir”
metodicamente esse “espelho” (a mente e seus
processos), como tentaram fazer a filosofia e a
ciência moderna.
A condição humana (1935) – rené magritte. na interpretação
tradicional – que pertence também ao senso comum–, o
conhecimento perfeito é aquele em que a representação é
idêntica à realidade, como a imagem de um espelho.
coleção Particular
Relação sujeito-objeto
Portanto, de acordo com a visão tradicional e representacionista
do conhecimento, há basicamente
dois polos no processo de conhecer:
• o sujeito conhecedor (nossa consciência, nossa
mente); e
• o objeto conhecido (a realidade, o mundo, os inúmeros
fenômenos).
Dependendo do papel que uma teoria do conhecimento
atribui a cada um desses polos, podemos
classificá-la como realista ou idealista. Vejamos
cada uma dessas possibilidades.
Realismo
De acordo com as teorias realistas do conhecimento,
as percepções que temos dos objetos são
reais, ou seja, correspondem de fato às características
presentes nesses objetos, na realidade. Por
exemplo: as formas e cores que o sujeito percebe
no pássaro são cores e formas que o pássaro realmente
possui em si. observe que a concepção do
senso comum é basicamente realista.
assim, no realismo mais ingênuo (ou menos
crítico), o conhecimento ocorre por uma apreensão
imediata das características dos objetos, isto é, os
objetos mostram-se ao sujeito que os percebe como
realmente são, determinando o conhecimento que
então se estabelece.
Há, no entanto, outras formas mais críticas
de realismo, que problematizam a relação
sujeito -objeto, porém mantêm a ideia básica
de que o objeto é determinante no processo de
conhecimento.
Observação
Diversos pensadores contemporâneos questionaram
o representacionismo, bem como
as visões gnosiológicas que polarizam sujeito-
objeto. Esse questionamento deu origem
a outras correntes de interpretações sobre o
processo de conhecer, como o pragmatismo
(que veremos adiante) e a fenomenologia (que
estudaremos no capítulo 17).
1. Interprete a pintura de magritte. É possível
relacioná-la com a concepção do conhecimento
como representação? Em sua opinião,
as representações podem ser idênticas à realidade?
Justifique.
COnexões
Capítulo 10 O conhecimento 193
Idealismo
Já nas teorias idealistas do conhecimento, é o
sujeito que predomina em relação ao objeto, isto é,
a percepção da realidade é produzida pelas nossas
ideias, pela nossa consciência. Em outras palavras,
os objetos seriam “construídos” de acordo com a
capacidade de percepção do sujeito.
como consequência dessa interpretação, o que
existe realmente é a representação que o sujeito faz
do objeto. Por exemplo: as formas e cores que o sujeito
percebe no pássaro nada mais são que ideias
ou representações desses atributos; não entra em
questão se elas realmente existem no pássaro.
também no idealismo há posições mais ou
menos radicais em relação à afirmação do sujeito
como elemento determinante na relação
de conhecimento.
1. Para que os filósofos investigam o processo do
conhecimento?
2. analise a relação entre conhecimento e representação,
de acordo com a tese representacionista.
3. Quais são os polos tradicionalmente identificados
no processo do conhecimento? Explique cada um
deles e sua relação.
4. confronte o idealismo com o realismo.
1. Realismo versus idealismo
Qual doutrina faz mais sentido para você: a realista ou a idealista? reflita sobre essa questão considerando
sua maneira de se relacionar e compreender o mundo e qual epistemologia traz implícita. Depois reúna-se
com colegas e procure argumentar defendendo sua posição.
análise e entendimento
Conversa fIlosófIca
Fontes primeiras
Razão ou sensação?
Vejamos agora outra questão básica enfrentada
pela gnosiologia: qual é a fonte, o ponto de partida
dos conhecimentos? De onde se originam as ideias,
os conceitos, as representações?
De acordo com as respostas dadas a esse problema,
destacam-se basicamente duas correntes
filosóficas: o racionalismo e o empirismo. mas
existe também uma terceira posição, o apriorismo
kantiano, que conjuga de alguma maneira essas
duas correntes. Vejamos cada uma.
Racionalismo
a palavra racionalismo deriva do latim ratio,
que significa “razão”, e é empregada em diversos
sentidos. no contexto das teorias do conhecimento,
racionalismo designa a doutrina que atribui exclusiva
confiança à razão humana como instrumento
capaz de conhecer a verdade. como advertia um
dos principais filósofos racionalistas, René Descartes
(1596-1650), não devemos nos deixar
persuadir senão pela evidência de nossa razão
(conforme vimos no capítulo 2).
Essa preferência se deve principalmente à
compreensão, pelos racionalistas, de que a experiência
sensorial é uma fonte permanente de
erros e confusões sobre a complexa realidade do
mundo. assim, para eles, somente a razão humana,
trabalhando de acordo com os princípios
lógicos, pode atingir o conhecimento verdadeiro,
capaz de ser universalmente aceito.
Para o racionalismo, os princípios lógicos
fundamentais seriam inatos, isto é, já estariam
na mente do ser humano desde o nascimento.
Daí a razão ser concebida como a fonte básica
do conhecimento.
empirismo
a palavra empirismo tem sua origem no grego
empeiria, que significa “experiência”. as teorias
empiristas defendem a tese de que todas as nossas
ideias são provenientes da experiência e, em última
instância, de nossas percepções sensoriais (visão,
audição, tato, paladar, olfato).
Portanto, para defensores do empirismo, não
existem as ideias inatas. como afirmava um dos
principais teóricos dessa corrente, o filósofo inglês
John Locke (1632-1704), nada vem à mente sem
ter passado antes pelos sentidos.
Isso quer dizer que ao nascermos nossa mente
é como um papel em branco (ou tábula rasa,
194 Unidade 2 N—s e o mundo
expressão usada pelo pensador), desprovida de
qualquer ideia. (Estudaremos o pensamento de
Locke com mais detalhes no capítulo 15.)
De onde provém, então, o vasto conjunto de
ideias que existe na mente humana? o filósofo
responde: da experiência. a experiência, segundo
Locke, fundamenta o conhecimento por meio de
duas operações:
• sensação – que leva para a mente as várias e
distintas percepções das coisas, sendo, por isso,
bastante dependente dos sentidos;
• reflexão – que consiste nas operações internas
da nossa mente, pelas quais se desenvolvem
as ideias primeiras fornecidas pelos
sentidos.
Afirmo que estas duas, a saber, as coisas materiais
externas, como objeto da sensação, e as operações
de nossas próprias mentes, como objeto da reflexão,
são, a meu ver, os únicos dados originais dos quais as
ideias derivam. (Locke, Ensaio acerca do entendimento
humano, p. 160.)
alegoria dos cinco sentidos. Para o empirista,
todo conhecimento está baseado na experiência
sensorial. Depende, portanto, em última
análise, de um ou mais de nossos sentidos.
ImagEs.com/corbIs/fotoarEna
apriorismo kantiano
nem todos os filósofos aderiram ao racionalismo ou ao empirismo. alguns buscaram um meio-termo
para essas visões tão opostas. É o caso do apriorismo kantiano, formulado pelo filósofo alemão Immanuel
Kant (1724-1804).
Catedral de Rouen de manhã cedo.
nessas pinturas da catedral de rouen (1892-1894), claude monet retrata não a catedral (a coisa em si, no dizer de Kant), mas a
catedral tal como é apreendida pelo pintor com as variações de luz de um dia (o fenômeno).
Catedral de Rouen ao meio-dia. Catedral de Rouen à luz do sol.
musÉE D'orsay, ParIs, frança
PusHKIn musEum, moscou, rússIa
cLarK art InstItutE, wILLIamstown, Eua
Cap’tulo 10 O conhecimento 195
Kant afirmava que todo conhecimento começa
com a experiência, mas que a experiência sozinha
não nos dá o conhecimento. ou seja, é preciso um
trabalho do sujeito para organizar os dados da experiência.
assim, o filósofo buscou saber como é
o sujeito a priori, isto é, antes de qualquer experiência.
concluiu que o ser humano possui certas
faculdades ou estruturas (as quais ele denomina
formas da sensibilidade e do entendimento) que
não apenas possibilitam a experiência, mas também
determinam o conhecimento.
Para Kant, portanto, a experiência fornece a
matéria do conhecimento (os seres do mundo),
enquanto a razão organiza essa matéria de
acordo com suas formas próprias, as estruturas
existentes a priori no pensamento – daí o nome
apriorismo. Isso significa que o sujeito acaba
sendo o centro do processo de conhecer, e não o
objeto, motivo pelo qual essa doutrina é também
conhecida como idealismo transcendental. (Estudaremos
o pensamento de Kant com mais detalhes
no capítulo 15.)
5. ao nascermos, nossa mente é como um papel em branco. Explique essa afirmação, quem a formulou e a que corrente pertence.
6. somente devemos deixar-nos persuadir pela evidência de nossa razão. comente essa frase.
7. De que maneira Kant resolve o impasse criado por racionalistas e empiristas?
2. Razão ou experiência?
“Penso, logo existo.” Esse conhecimento a que chegou Descartes está fundado na razão ou na experiência?
reúna-se com colegas para debater esse tema.
análise e entendimento
Conversa filosófica
possibilidades
O que podemos conhecer?
Vejamos por último uma das mais importantes
questões da gnosiologia: somos capazes de conhecer
a verdade? É possível ao sujeito apreender
o objeto? afinal, quais são as possibilidades do
conhecimento humano?
as respostas dadas a essas questões levaram
ao surgimento de duas correntes básicas e antagônicas
na história da filosofia. uma é o ceticismo,
que diagnostica a impossibilidade de conhecermos
a verdade. a outra é o dogmatismo, que defende a
possibilidade de conhecermos a verdade.
Conceito de verdade
mas o que queremos dizer por verdade? Que
verdade é essa da qual tratam tantos pensadores?
a palavra verdade tem o sentido básico de uma
correspondência entre o que se pensa ou se diz e
a realidade que se quer conhecer ou expressar.
É o mesmo que conhecimento verdadeiro.
no entanto, quando os diversos filósofos que
tratam da temática do conhecimento falam em
“conhecer a verdade”, estão se referindo não só
a esse sentido básico, mas também – e principalmente
– à ideia de conhecer como o objeto é
em sua essência, ou seja, sua realidade intrínseca.
trata-se de conhecer o ser, a realidade essencial
e metafísica das coisas (conforme estudamos
no capítulo 6).
se, por exemplo, um pássaro parece azul para
algumas pessoas e verde-azulado para outras,
qual será a cor verdadeira desse pássaro? será
possível conhecer a verdade?
Vejamos algumas das respostas dadas a essa
pergunta. Destacaremos, além das correntes do
ceticismo e do dogmatismo, uma terceira posição,
o criticismo, que tenta superar o impasse criado
por essas posições antagônicas.
dogmatismo
uma doutrina é dogmática quando, como dissemos,
defende a possibilidade de atingirmos a
verdade. Essa interpretação pode seguir duas
variantes:
• dogmatismo ingênuo – tendência que confia
plenamente nas possibilidades do nosso conhecimento
(predominante no senso comum). não
196 Unidade 2 N—s e o mundo
vê problema na relação sujeito conhecedor e
objeto conhecido. crê que, sem grandes dificuldades,
percebemos o mundo tal qual ele é;
• dogmatismo crítico – tendência que defende
nossa capacidade de conhecer a verdade mediante
um esforço conjugado de nossos sentidos
e de nossa inteligência. assim, confia que, por
meio de um trabalho metódico, racional e científico,
o ser humano torna-se capaz de conhecer
a realidade do mundo.
Ceticismo
uma doutrina é cética quando duvida da possibilidade
de conhecermos a verdade ou nega essa
possibilidade. Essa interpretação também pode
seguir duas vertentes básicas, uma absoluta e outra
relativa. Vejamos cada uma delas.
Ceticismo absoluto
muitos consideram o filósofo grego Górgias
(c. 485-380 a.c.) o pai do ceticismo absoluto. Ele
defendia as seguintes ideias: o ser não existe; se
existisse, não poderíamos conhecê-lo; e, se pudéssemos
conhecê-lo, não poderíamos comunicá-lo
aos outros.
outros estudiosos apontam o filósofo grego
Pirro (365-275 a.c.) como o fundador do ceticismo
absoluto. Por isso, chama-se muitas vezes o
ceticismo de pirronismo. Pirro afirmava ser impossível
ao ser humano conhecer a verdade devido
a duas fontes principais de erro:
• os sentidos – o filósofo dizia que nossos conhecimentos
são provenientes dos sentidos (visão, audição,
olfato, tato, paladar), mas estes não são dignos
de confiança, pois podem nos induzir ao erro;
• a razão – Pirro explicava que as diferentes e contraditórias
opiniões manifestadas pelas pessoas
sobre os mesmos assuntos revelam os limites de
nossa inteligência, razão pela qual jamais alcançaremos
a certeza de qualquer coisa.
o ceticismo absoluto despertou muita oposição.
seus críticos consideram-no uma doutrina radical,
estéril e contraditória. radical porque nega totalmente
a possibilidade de conhecer. Estéril porque
não leva a nada. contraditória porque, ao dizer que
nada é verdadeiro, acaba afirmando que pelo menos
existe algo de verdadeiro, isto é, o conhecimento
de que nada é verdadeiro.
O violinista verde (1923-1924) – marc chagall. a relatividade
da experiência sensorial: como explicam diversos estudiosos,
a percepção das cores não é apenas um fenômeno físico e
neurológico, que varia entre as pessoas e entre as espécies,
mas também cultural.
guggEnHEIm musEum, nEw yorK, Eua
Isto não é uma
maçã (1964) – rené
magritte. Procurando
expressar o problema
filosófico da relação
do conhecimento
com a realidade, o
pintor belga compôs
este quadro, que
faz parte da série
conhecida como “a
traição das imagens”.
coLEção PartIcuLar
Cap’tulo 10 O conhecimento 197
Ceticismo relativo
como o próprio nome diz, o ceticismo relativo
consiste em negar apenas parcialmente nossa capacidade
de conhecer a verdade. ou seja, apresenta
uma posição moderada em relação às possibilidades
de conhecimento se comparado ao ceticismo
absoluto. Entre as doutrinas que manifestam
um ceticismo relativo, destacamos as seguintes:
• o subjetivismo – doutrina que considera o conhecimento
uma relação puramente subjetiva e
pessoal entre o sujeito e a realidade percebida.
o conhecimento limita-se às ideias e representações
elaboradas pelo sujeito pensante, sendo impossível
alcançar a objetividade. o subjetivismo
nasce com o pensamento do grego Protágoras,
sofista do século V a.c., que dizia que “o homem é
a medida de todas as coisas”, ou seja, a verdade é
uma construção humana, ela não está nas coisas;
• o relativismo – doutrina que considera não existirem
verdades absolutas, mas apenas verdades
relativas a certo tempo, a determinado espaço
social, enfim, a um contexto histórico;
• o probabilismo – doutrina que propõe que nosso
conhecimento é incapaz de atingir a certeza plena;
tudo o que podemos alcançar é uma verdade provável.
Essa probabilidade pode ser digna de maior
ou menor credibilidade, mas nunca chegará ao
nível da certeza completa, da verdade absoluta;
• o pragmatismo – doutrina que concebe os humanos
como seres práticos, ativos, não apenas como
seres pensantes. Por isso, para nós, verdadeiro é
aquilo que é útil, eficaz, que dá certo, que serve
aos interesses das pessoas em sua vida prática.
ou seja, o que chamamos de verdade é mais a
correspondência do pensamento com o objetivo
a ser atingido do que a correspondência do pensamento
com o objeto propriamente dito. assim,
para richard rorty, um expoente dessa corrente,
[…] interpretar alguma coisa, conhecer alguma coisa,
penetrar em sua essência, e assim por diante, tudo isso
são apenas diversas formas de descrever um processo
para fazê-la funcionar. (A trajetória do pragmatista.
Em eco, Interpretação e superinterpretação, p. 110.)
funDação gaLa/saLVaDor DaLI, fIguEras, EsPanHa
Galátea das esferas
(1952) – salvador Dalí,
óleo sobre tela. com sua
crítica da razão, Kant
realizou uma “revolução
copernicana” na filosofia,
pois propôs que os objetos
são regulados pelas
formas a priori de nosso
conhecimento, e não o
contrário, como sempre
se supôs. Isso quer dizer
que o que conhecemos é a
“realidade para nós”, não
a “realidade em si”. nós
a construímos a partir de
nossas próprias estruturas
de sensibilidade e
entendimento, como as
várias esferas do quadro
de Dalí compõem uma
“galáxia”, um mundo com
forma de rosto feminino
(de gala Éluard Dalí).
198 Unidade 2 N—s e o mundo
Criticismo
teoria filosófica desenvolvida por Kant, o criticismo
constitui uma tentativa de superação do
impasse criado entre o ceticismo e o dogmatismo,
assim como o foi entre o empirismo e o racionalismo.
tal como o dogmatismo, a filosofia
crítica acredita na possibilidade do conhecimento,
mas se indaga sobre as reais condições nas
quais esse conhecimento seria possível. trata-
-se, portanto, de uma posição crítica diante da
possibilidade de conhecer.
o resultado dessa postura leva a uma distinção
entre o que o nosso entendimento pode conhecer
e o que não pode. ou seja, o criticismo admite a
possibilidade de conhecer, mas esse conhecimento
é limitado e ocorre sob condições específicas,
apresentadas por Kant na obra Crítica da razão
pura (conforme veremos no capítulo 15).
Depois de Kant, muitos outros pensadores se
debruçaram sobre o problema do conhecimento,
trazendo novas contribuições a essa discussão.
como você pode perceber, da mesma forma que
nos outros temas que estudamos anteriormente,
a questão do conhecimento é mais um assunto
que escapa a uma palavra final e definitiva.
8. Explique o conceito de verdade.
9. Para o filósofo francês Jacques maritain (1882-
-1973), aqueles que duvidam plenamente da
possibilidade de conhecer “só poderiam filosofar
guardando um silêncio absoluto – mesmo no
interior de suas almas” (Introdução geral à filosofia,
p. 120). comente essa afirmação.
10. Em que sentido o criticismo representou uma
tentativa de superação do impasse criado pelo
ceticismo e pelo dogmatismo?
3. Senso comum e conhecimento
a noção de conhecimento do senso comum é, em geral, realista e dogmática, embora as pessoas não se
deem conta disso. Você concorda com essa afirmação? fundamente sua opinião. Depois reúna-se com
seus colegas para debater esse assunto.
análIse e entendImentO
COnveRsa fIlOsófICa
(uncisal) no século XVIII, o filósofo Emanuel Kant formulou as hipóteses de seu idealismo transcendental.
segundo Kant, todo conhecimento logicamente válido inicia-se pela experiência, mas é construído internamente
por meio das formas a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e pelas categorias lógicas do entendimento.
Dessa maneira, para Kant, não é o objeto que possui uma verdade a ser conhecida pelo sujeito cognoscente,
mas sim o sujeito que, ao conhecer o objeto, nele inscreve suas próprias coordenadas sensíveis e intelectuais.
De acordo com a filosofia kantiana, pode-se afirmar que:
a) a mente humana é como uma tabula rasa, uma folha em branco que recebe todos os seus conteúdos
da experiência.
b) os conhecimentos são revelados por Deus para os homens.
c) todos os conhecimentos são inatos, não dependendo da experiência.
d) Kant foi um fi lósofo da antiguidade.
e) para Kant, o centro do processo de conhecimento é o sujeito, não o objeto.
PROPOSTAS FINAIS
de olho na universidade
Cap’tulo 10 O conhecimento 199
Descartes (1974, Itália, direção de roberto rossellini)
obra sobre a vida de Descartes e a sua busca pelo conhecimento. Inclui o processo de escritura e publicação
de alguns de seus principais livros e os debates em torno de suas ideias.
Sócrates (1971, Itália/Espanha/frança, direção de roberto rossellini)
representação do final da vida de sócrates, seu julgamento e condenação à morte. mostra o filósofo
andando por atenas, acompanhado de seus discípulos, exercitando seus diálogos (maiêutica) em busca
do conhecimento.
sessão cinema
os textos que seguem tratam do tema da origem do conhecimento. Leia-os atentamente e responda
às questões.
1. a luz da razão
a certeza de pensar
Assim, porque os nossos sentidos nos enganam às vezes, quis supor que não havia coisa alguma que
fosse tal como eles nos fazem imaginar. [...] E, enfim, considerando que todos os mesmos pensamentos
que temos quando despertos nos podem também ocorrer quando dormimos, sem que haja nenhum, nesse
caso, que seja verdadeiro, resolvi fazer de conta que as coisas que até então haviam entrado no meu espírito
não eram mais verdadeiras que as ilusões de meus sonhos. Mas, logo em seguida, percebi que, enquanto eu
queria assim pensar que tudo era falso, seria necessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. E, notando
que esta verdade: eu penso, logo existo era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições
dos céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro
princípio da filosofia que procurava.
a substância pensante
Depois, examinando com atenção o que eu era, e vendo que podia supor que não tinha corpo algum e que
não havia qualquer mundo, ou qualquer lugar onde eu existisse, mas que nem por isso podia supor que não
existia; e que, ao contrário, pelo fato mesmo de eu pensar em duvidar da verdade das outras coisas seguia-se
mui evidente e mui certamente que eu existia; [...] compreendi por aí que era uma substância cuja essência
ou natureza consiste apenas no pensar, e que, para ser, não necessita de nenhum lugar, nem depende de
qualquer coisa material. De sorte que esse eu, isto é, a alma, pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta
do corpo e, mesmo, que é mais fácil de conhecer do que ele, e, ainda que este nada fosse, ela não deixaria
de ser tudo o que é.
as ideias de deus e da alma
Mas o que leva muitos a se persuadirem de que há dificuldade em conhecer a Deus e mesmo também em
conhecer o que é sua alma é o fato de nunca elevarem o espírito além das coisas sensíveis e de estarem de
tal modo acostumados a nada considerar senão imaginando, que é uma forma de pensar particular às coisas
materiais, que tudo quanto não é imaginável lhes parece não ser inteligível. E isto é assaz manifesto pelo fato
de os próprios filósofos terem por máxima, nas escolas, que nada há no entendimento que não haja estado
primeiramente nos sentidos, onde todavia é certo que as ideias de Deus e da alma jamais estiveram. E me
parece que todos os que querem usar a imaginação para compreendê-las procedem do mesmo modo que se,
para ouvir os sons ou sentir os odores, quisessem servir-se dos olhos; exceto com esta diferença ainda: que
o sentido da vista não nos garante menos a verdade de seus objetos do que os do olfato ou da audição; ao
passo que a nossa imaginação ou os nossos sentidos nunca poderiam assegurar-nos de qualquer coisa, se o
nosso entendimento não interviesse.
Descartes, Discurso do método, quarta parte; intertítulos nossos.
2. as ideias são cópias das impressões e sensações
[...] quando analisamos nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos e sublimes que sejam, sempre
descobrimos que se resolvem em ideias simples que são cópias de uma sensação ou sentimento anterior. Mesmo
para pensar
200 Unidade 2 N—s e o mundo
as ideias que, à primeira vista, parecem mais afastadas dessa origem mostram, a um exame mais atento,
ser derivadas dela. A ideia de Deus, correspondendo a um Ser infinitamente inteligente, sábio e bom,
surge das reflexões que fazemos sobre as operações de nossa própria mente, aumentando sem limites
essas qualidades de bondade e sabedoria. Podemos prosseguir esse exame tanto quanto desejarmos, e
sempre descobriremos que todas as ideias que examinamos são copiadas de uma impressão semelhante.
Aqueles que afirmam que essa posição não é universalmente verdadeira, nem sem exceções, têm apenas
um único e bastante fácil método de refutá-la: apresentar uma ideia que em sua opinião não seja derivada
dessa fonte. Caberá então a nós, se quisermos sustentar nossa doutrina, indicar a impressão ou percepção
viva que lhe corresponda.
Hume, Investigação acerca do entendimento humano, seção II, p. 14.
3. da distinção entre conhecimento puro e empírico
as fontes do conhecimento
Não há dúvida de que todo o nosso conhecimento começa com a experiência [...]. Mas embora todo
o nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo ele se origina justamente da experiência.
Pois poderia bem acontecer que mesmo o nosso conhecimento de experiência seja um composto
daquilo que recebemos por impressões e daquilo que a nossa própria faculdade de conhecimento
(apenas provocada por impressões sensíveis) fornece de si mesma, cujo acréscimo não distinguimos
daquela matéria-prima antes que um longo exercício nos tenha chamado a atenção para ele e nos tenha
tornado aptos a abstraí-lo.
Os conhecimentos a priori e a posteriori
Portanto, é uma questão que requer pelo menos uma investigação mais pormenorizada e que não pode
ser logo despachada devido aos ares que ostenta, a saber, se há um tal conhecimento independente da
experiência e mesmo de todas as impressões dos sentidos. Tais conhecimentos denominam-se a priori e
distinguem-se dos empíricos, que possuem suas fontes a posteriori, ou seja, na experiência.
[...] por conhecimentos a priori entenderemos não os que ocorrem independente desta ou daquela
experiência, mas absolutamente independente de toda a experiência. Opõem-se os conhecimentos empíricos
ou aqueles que são possíveis apenas a posteriori, isto é, por experiência.
kant, Crítica da razão pura, Introdução; intertítulos nossos.
1. Identifique a posição de cada um desses três filósofos no que se refere à origem do conhecimento.
Justifique sua resposta usando trechos dos textos citados.
2. como Descartes refuta o empirismo usando as ideias de Deus e da alma?
3. De acordo com Hume, como desenvolvemos a ideia de Deus, refutando o argumento de Descartes?
4. o que são, de acordo com Kant, conhecimentos a priori e conhecimentos a posteriori? Qual é a sua
origem? Procure exemplos.
5. após o estudo e o entendimento desses três textos, o que você pensa sobre a origem do conhecimento?
Qual argumentação você considerou mais convincente? reúna-se com colegas para
debater sobre esse tema.
Bom dia prof não tem atividade na pág 197 e 199 só tem textos e para responder a atividade na pág 207
ResponderExcluirProf mim explica
Excluir