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Atividade XIII filosofia EJA 1A-B-C-D

Boa noite meus queridos alunos! tudo em paz? espero que sim.
A nossa atividade da semana consiste em leitura e responder às questões no final.

O mundo das idéias de Platão, e outros filósofos.
Bons estudos!
Um Abração para cada um de vocês!

Platão: conhecimento
e bondade no grego antigo, várias palavras traduziam
distintos aspectos da felicidade. A principal delas
era eudaimonia, derivada dos termos eu (“bem-
-disposto”) e daimon (“poder divino”). Trata-se da
felicidade entendida como um bem ou poder concedido
pelos deuses. subentendia-se que, para
mantê-la, a pessoa deveria conduzir sua vida de
tal maneira a não se indispor com as divindades,
para o que era preciso sabedoria. mesmo assim,
ainda corria o risco de perder esse bem ou poder
se os deuses assim o desejassem, por qualquer
motivo arbitrário.
isso significa que a felicidade era tida como uma
espécie de fortuna ou acaso – enfim, um bem instável
que dependia tanto da conduta pessoal, como
da boa vontade divina (cf. LAurioLA, De eudaimonia à
felicidade..., Revista Espaço Acadêmico, n. 59).
Platão (427-347 a.C.) – considerado por boa
parte dos estudiosos o primeiro grande filósofo
ocidental, juntamente com seu mestre, sócrates –
foi um dos principais pensadores gregos a se lançar
contra essa instabilidade, em busca de uma felicidade
estável, postura que caracterizará de forma
marcante a ética eudemonista grega. (Veja a biografia
de Platão no capítulo 12. Distintos aspectos
de seu pensamento serão abordados também em
várias outras partes deste livro.)
no entendimento de Platão, o mundo material
– aquele que percebemos pelos cinco sentidos – é
enganoso. nele tudo é instável e por meio dele não
pode haver felicidade. Por isso, para esse filósofo, o
caminho da felicidade é o do abandono das ilusões
dos sentidos em direção ao mundo das ideias, até
alcançar o conhecimento supremo da realidade,
correspondente à ideia do bem.
o que isso significa e como devemos agir para
alcançar essa condição?
Harmonizar as três almas
Para entender a concepção platônica de felicidade,
precisamos compreender primeiramente
sua doutrina sobre a alma humana, contida na
obra A República. Para Platão, o ser humano é essencialmente
alma, que é imortal e existe previamente
ao corpo. A união da alma com o corpo é
acidental, pois o lugar próprio da alma não é o
mundo sensível, e sim o mundo inteligível. A
alma se dividiria em três partes:
• alma concupiscente – situada no ventre e ligada
aos desejos carnais;
• alma irascível – situada no peito e vinculada às
paixões;
• alma racional – situada na cabeça e relacionada
ao conhecimento.
A vida feliz de uma pessoa dependeria da devida
subordinação e harmonia entre essas três almas.
A alma racional regularia a irascível, e esta controlaria
a concupiscente, sempre com a supervisão da
parte racional. há, portanto, uma primazia da parte
racional sobre as demais.
Para apoiar essa tarefa, Platão propunha duas
práticas:
• ginástica – conjunto de exercícios e cuidados
físicos por meio dos quais a pessoa aprendia
a disciplina e o domínio sobre as inclinações
negativas do corpo; e
• dialética – método de dialogar praticado por
sócrates (conforme veremos no capítulo 3), pelo
qual cada pessoa poderia ascender progressivamente
do mundo sensível (que Platão considerava
ilusório) ao mundo inteligível (que ele
considerava verdadeiro).
– Percier/beranger (Coleção particular). Representa uma
corrida entre jovens gregos em aula de educação física.
na grécia antiga, a educação das crianças – ou paideia
(do grego paidos, “criança”) – passou por várias etapas de
desenvolvimento. À época de Platão, meninos entre 7 e
14 anos (meninas não) recebiam aulas de ginástica e música.
Também aprendiam gramática e a recitar de cor poemas
antigos, que eram fonte importante de conteúdo moral
(cf. JAeger, Paidea – a formação do homem grego).
mAssimo lisTRi/CoRbis/FoToARenA
Eudemonista – relativo à felicidade ou que tem a
felicidade como valor fundamental ou principal objetivo.
Inteligível – que só pode ser apreendido pelo intelecto,
por oposição ao sensível, isto é, que só pode ser
apreendido pelos sentidos.
Concupiscente – que está relacionado com a
concupiscência, isto é, o desejo de prazeres carnais.
Irascível – que é propenso a experimentar a ira, a raiva.
Capítulo 1 A felicidade 23


Conhecer o bem por meio dessas práticas – especialmente da
dialética – a alma humana penetraria o mundo inteligível,
também conhecido como mundo das
ideias, e se elevaria sucessivamente, mediante a
contemplação das ideias perfeitas, até atingir a
ideia suprema, que é a ideia do bem. Para Platão,
as ideias perfeitas seriam a realidade verdadeira,
e compreendê-las significava, portanto, alcançar
o grau máximo de conhecimento.
Por que a supremacia da ideia do bem? Porque
o bem, segundo o filósofo, seria a causa de todas
as coisas justas e belas que existem, incluindo as
outras ideias perfeitas, como justiça, beleza, coragem.
sem o bem não há nenhuma delas, inclusive a
ideia perfeita de felicidade. (Voltaremos a estudar a
teoria do mundo das ideias no capítulo 12.)
em resumo, podemos dizer que, para Platão, a
felicidade é o resultado final de uma vida dedicada
a um conhecimento progressivo até se atingir a ideia
do bem, o que poderia ser sintetizado na seguinte
fórmula: conhecimento = bondade = felicidade.
As três coisas, quando ocorrem em sua máxima
expressão, andariam sempre juntas, mas o caminho
partiria do conhecimento.
Além disso, para Platão, a ascensão dialética
equivaleria não apenas a uma elevação cognoscitiva
(isto é, do conhecimento), mas também a uma
evolução do ser da pessoa (evolução ontológica, no
jargão filosófico). simplificando bastante, podemos
dizer que aquele que alcança o conhecimento verdadeiro
(que culmina com a ideia do bem) torna-se
um ser “melhor” em sua essência e, por isso, pode
viver mais feliz.
Construir o bem de todos
Platão, no entanto, tinha como motivação fundamental
de seu filosofar o âmbito político: para
ele, a política era a mais nobre das atividades e
de todas as ciências, pois tinha como objeto a pólis
(cidade-estado grega) e, portanto, a vida do
conjunto dos cidadãos. Por isso, seu projeto político-
filosófico visou à construção de uma sociedade
justa, isto é, aquela que promovesse o bem
de todos (o bem comum):
[...] ao fundarmos a cidade, não tínhamos em vista tornar
uma única classe eminentemente feliz, mas, tanto quanto
possível, toda a cidade. De fato, pensávamos que só
numa cidade assim encontraríamos a justiça e na cidade
pior constituída, a injustiça [...]. Agora julgamos modelar
a cidade feliz, não pondo à parte um pequeno número
dos seus habitantes para torná-los felizes, mas considerando-
a como um todo [...] (A República, p. 115-116).
Com esse propósito, em sua obra denominada
A República, o filósofo idealizou uma sociedade
organizada em torno de três atividades básicas:
produção dos bens materiais e de alimentos, defesa
da cidade e administração da pólis (tema que
será estudado mais detidamente no capítulo 19).
Dentro dessa organização, a cada cidadão caberia
uma função social (produtor, guerreiro ou sábio),
e esta seria definida de acordo com sua própria
natureza, isto é, a aptidão inata a cada pessoa.
A identificação dessa aptidão natural ou vocação
se faria durante o processo educativo. A educação
seria igual para todos os jovens. Aqueles
que se revelassem os mais sábios seriam destinados
à administração pública. e, como os filósofos
eram os mais sábios entre os mais sábios (os
conhecedores do caminho da felicidade), seriam
eles os governantes da cidade.
Dentro dessa organização, conforme concebeu
Platão, cada um já seria feliz pelo simples
fato de cumprir a função para a qual é mais apto
por natureza (concepção grega à qual voltaremos
mais adiante).

Aristóteles: vida teórica e prática na história da filosofia, ocorre frequentemente
que um discípulo acabe não sendo um seguidor fiel das doutrinas de seu mestre e até se oponha a
ele em vários aspectos, desenvolvendo um pensamento
independente e original. É o caso de Aristóteles (384-322 a.C.), que refutou a teoria do mundo das ideias, pilar da filosofia platônica, propondo um pensamento que, embora valorizasse a atividade intelectual, teórica e contemplativa como fundamental, resgatava o papel dos bens humanos, terrenos, materiais para alcançar uma vida boa (distintos aspectos do pensamento de Aristóteles serão abordados no capítulo 12 e em outras partes deste livro).
Qual foi, então, o método proposto pelo filósofo?
3. Praticar ginástica ou alguma atividade física disciplinada faz você sentir-se bem? Você percebe resultados concretos em termos de bem-estar físico, emocional e mental? Procure
relacionar suas observações com a teoria platônica sobre a felicidade.

Conexões 24 Unidade 1 Filosofar e viver
Exercitar a contemplação em sua obra dedicada ao tema da ética, Aristóteles
apresenta a seguinte explicação: [...] o que é próprio de cada coisa é, por natureza,
o que há de melhor e de aprazível para ela; e, assim, para o homem a vida conforme a razão é a melhor e a mais aprazível, já que a razão, mais que qualquer outra coisa, é o homem.
Donde se conclui que essa vida é também a mais feliz (Ética a Nicômaco, p. 190).
Para que você entenda esse raciocínio, vamos expor, mesmo que resumidamente, a argumentação
que sustenta a tese do filósofo sobre a felicidade:
• Aristóteles afirmava que um ser só alcança seu fim quando cumpre a função (ou faculdade) que
lhe é própria e o distingue dos demais seres, isto é, sua virtude (ou, em grego, aretz).
• A palavra virtude é entendida aqui como a propriedade mais característica e essencial de um
ser, aquela cujo exercício conduz à excelência ou perfeição desse ser, trazendo-lhe prazer.
Por exemplo: a virtude de uma faca é o seu corte, de uma laranjeira é produzir laranjas, de
um dentista é tratar dos dentes.
• o ser humano, por sua vez, dispõe de uma grande quantidade de funções ou faculdades
(caminhar, correr, comer, sentir, dormir, desejar, obrar, amar etc.), mas outros animais podem
possuí-las também. há, porém, uma única faculdade que ele possui com exclusividade
e que o distingue dos demais seres: o pensar de forma racional. essa seria, portanto, sua
virtude essencial.
• Assim, o ser humano só alcançará seu fim e bem supremo (a felicidade) se atuar conforme
sua virtude, que é a razão. mas preste atenção: para Aristóteles, não basta ter uma virtude (a racionalidade) – é preciso exercitá-la. o ser humano precisa esforçar-se para realizar aquilo que lhe é dado pela natureza como potência (possibilidade de ser). Portanto, o que o filósofo preconizava era que, para atingir a felicidade verdadeira, o ser humano deveria dedicar-se fundamentalmente à vida teórica, no sentido de uma contemplação intelectual, buscando observar a beleza e a ordem do cosmo, a autêntica realidade das coisas. e deveria manter essa prática durante a vida inteira, e não apenas em um ou outro dia, [...] porquanto uma andorinha não faz verão, nem um dia tampouco; e da mesma forma um dia, ou um breve espaço de tempo, não faz um homem feliz e venturoso. (Ética a Nicômaco, p. 16.) Praticar outras virtudes sem tirar os pés do chão, no entanto, Aristóteles
dizia também que não se pode abandonar a companhia da família e dos amigos, a riqueza e o poder. Todos esses elementos, e o prazer que deles resulta, promoveriam o bem-estar material e a paz social, indispensáveis à vida contemplativa. o sábio não poderá dedicar-se à contemplação se, por exemplo, não houver alimentos, se seus filhos chorarem de fome e se a cidade toda estiver em pé de guerra.
Além do mais, o gozo de tais prazeres estaria vinculado ao exercício de outras virtudes humanas
– como a generosidade, a coragem, a cortesia e a justiça – que, em seu conjunto, contribuiriam para
a felicidade completa do ser humano. Portanto, na ética aristotélica, embora o exercício
contínuo de uma vida teórica seja essencial (condição necessária, no jargão filosófico) para
uma pessoa alcançar a vida feliz, isso não basta (não é condição suficiente). em resumo, a felicidade
seria uma vida dedicada à contemplação teórica, aliada à prática das outras virtudes humanas e
sustentada pelo bem-estar material e social. Platão em estado contemplativo, meditando sobre a
imortalidade (1874) – autor desconhecido. (Coleção particular.)
4. Destaque, entre os elementos propostos por Aristóteles para uma vida feliz, aqueles que
você considera condição necessária para sua felicidade.
Para você há algum que, além denecessário, é condição suficiente para serfeliz?
Qual? Justifique sua resposta.
Conexões
Capítulo 1 A felicidade 25
Epicuro: o caminho do prazer Apesar das diferenças entre as duas abordagens
anteriores, você já deve ter notado que elas não são tão distintas assim, pois tanto Platão como
Aristóteles, por caminhos diversos, valorizam muito o papel do intelecto para obter uma vida feliz.
Resposta realmente distinta foi a de Epicuro (341-271 a.C.), que recomendava o caminho do prazer. Para o filósofo, felicidade é o prazer resultante da satisfação dos desejos, como crê a maioria
das pessoas. mas o que epicuro quer dizer com isso é que a felicidade é fundamentalmente prazer,
pois para ele tudo no mundo é matéria e, no ser humano, sensação, inclusive a felicidade.
Assim, ser feliz é sentir prazer.
Com base nessa visão sensualista (baseada nas sensações), Epicuro dirá que todos os seres buscam
o prazer e fogem da dor e que, para sermos felizes, devemos gerar, primeiramente, as condições
materiais e psicológicas que nos permitam experimentar apenas o prazer na vida. e prazer,
para ele, é sobretudo ausência de dor, conforme veremos adiante.
Que estratégias o filósofo propõe para evitar a dor?
Eliminar certas crenças uma das principais causas de angústia e infelicidade, segundo Epicuro, são as preocupações religiosas e as superstições. ele se refere, aqui, ao temor que certas crenças e religiões nos impõem. Por exemplo, os gregos temiam muito ofender
seus deuses e serem terrivelmente punidos por
eles. Também viviam sob o pavor de que forças divinas
interferissem em suas vidas, mudando sua
sorte ou tirando-lhes os seres queridos.
Todo esse sofrimento poderia ser evitado,
segundo o filósofo, se as pessoas compreendessem
que o universo inteiro é constituído de matéria,
inclusive a alma humana. Veriam que tudo o que
acontece pode ser explicado pelo movimento
aleatório dos átomos, que produz forças cegas e
indiferentes ao destino humano. Aqui Epicuro segue
a teoria atomista e mecanicista de outro filósofo
grego, Demócrito (460-370 a.C.), que estudaremos
adiante (no capítulo 11).
mediante essa compreensão materialista do
universo e do ser humano, Epicuro sustentava que
as pessoas também se livrariam de outro grande
fator de angústia e infelicidade: o medo da morte.
Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é
nada, visto que todo bem e todo mal residem nas
sensações, e a morte é justamente a privação das
sensações. A consciência clara de que a morte não
significa nada para nós proporciona a fruição da vida
efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito
e eliminando o desejo de imortalidade.
[...] quando estamos vivos, é a morte que não está
presente; ao contrário, quando a morte está presente,
nós é que não estamos. (Carta sobre a felicidade [a
Meneceu], p. 27-28.)
Eliminar ou moderar os desejos
Epicuro também dizia que quem espera muito
sempre corre o risco de se decepcionar. Por isso,
ele recomendava que as pessoas eliminassem todos
os desejos desnecessários e se permitissem
apenas os naturais e necessários, mesmo assim
com moderação.
Detalhe de Jardim das del’cias (c. 1510) – hyeronimus bosch,
óleo sobre painel. nessa obra, repleta de simbolismo, o artista
retrata a humanidade totalmente entregue aos prazeres
sensoriais e carnais – agindo, portanto, de maneira contrária
aos preceitos epicuristas.
Atomista – relativo ao atomismo, doutrina filosófica
segundo a qual toda matéria é formada por átomos
(partículas minúsculas, eternas e indivisíveis).
Mecanicista – relativo ao mecanicismo, conceito
filosófico de que algo funciona de forma mecânica,
isto é, como uma máquina, obedecendo a relações
de causa e efeito.

26 Unidade 1 Filosofar e viver
isso significa fazer uma distinção entre os desejos,
que, para o filósofo, podiam ser classificados
em três tipos:
• naturais e necessários – como os desejos de
comer, beber e dormir;
• naturais e desnecessários – como os desejos de
comer alimentos refinados, tomar bebidas especiais
e caras e dormir em lençóis luxuosos etc.;
• não naturais e desnecessários – como os desejos
de riqueza, fama e poder.
Contentar-se com pouco seria o segredo do
prazer e da felicidade. Com a expectativa reduzida,
não há decepção, e um grande prazer pode advir de
um simples copo de água. gozar o prazer eventual
de um banquete ou de um cargo elevado não é
proibido, mas não deveria ser desejado sempre,
pois, mais cedo ou mais tarde, viriam a insatisfação,
o desprazer, a infelicidade.
agir com prudência racional
Como nem todos os prazeres contribuem para
uma vida feliz, como apontou epicuro, podemos concluir
que alguns prazeres são superiores a outros.
Por isso, o filósofo recomendava agir com prudência
racional, isto é, avaliar a ação de cada um deles.
se fizermos uma comparação entre os prazeres,
veremos que – conforme assinalou o filósofo – alguns
são mais duradouros e encantam o espírito,
como a boa conversação, a contemplação das artes
e a audição de música. Já outros, movidos pela explosão
das paixões, são muito intensos e imediatos,
mas perdem sua força com o passar do tempo.
esse discernimento nos possibilita realizar uma
escolha prudente e racional dos prazeres, evitando
aqueles que podem produzir infelicidade. Desse
modo, conquistamos a autarquia, isto é, o governo
da própria vida, sem depender de elementos
externos. e pela autarquia – conforme sustentou
Epicuro – ascenderíamos à ataraxia, palavra de
origem grega que designa o estado de imperturbabilidade
da alma caracterizada pela indiferença
total ao que ocorre no mundo. esse seria o objetivo
último, a felicidade suprema dos epicuristas.
Estoicos: amor ao destino
outra perspectiva no caminho da felicidade foi
criada pelos estoicos, dando origem à corrente
filosófica antiga conhecida como estoicismo. essa
palavra deriva do grego stoá, “pórtico” ou “galeria
de colunas”. Trata-se de uma referência ao local
onde o primeiro filósofo dessa corrente, Zenão de
Cício (c. 335-264 a.C.), reunia os alunos e administrava
suas aulas. Para o estoico, é feliz aquele
que vive de acordo com a ordem cósmica, aceitando
e amando o próprio destino nela inscrito.
Como se explica essa ideia e qual é precisamente
o método estoico para a condução de uma
vida boa e feliz?
Compreender a ordem cósmica
o primeiro passo é entender a física ou cosmologia
estoica. o estoicismo concebe o universo
como kósmos, “universo ordenado e harmonioso”,
composto de um princípio passivo (a matéria) e de
um princípio ativo, racional, inteligente (o chamado
logos), que permeia, anima e conecta todas as
suas partes.
Princípio – aquilo que inicia, que funda; aquilo que
constitui a base, a fonte ou o ponto de partida de
coisas ou ideias.
esse princípio ativo ou inteligência universal –
que os estoicos chamavam de providência – regeria
toda a realidade, equivalendo ao que se pode
denominar Deus. se o Deus estoico permeia tudo,
isso significa que ele se encontra no mundo e se
confunde com ele, com a natureza (no jargão da
filosofia diz-se que Deus é imanente; o contrário
desse termo é transcendente, isto é, que está separado
do mundo e não se confunde com ele, como
é o caso do Deus cristão).
em outras palavras, tudo o que existe e que
acontece tem um objetivo e uma razão de ser,
pois faz parte da inteligência universal e divina.
Assim, tudo é necessário, ou seja, não pode ser
diferente do que é, pois, no kósmos, todos os
eventos estão organicamente predeterminados.
isso inclui a vida de cada um, o que quer dizer
que, na concepção estoica, cada pessoa nasce
com um destino definido.
Pela mesma razão, tudo o que acontece deve ser
bom, pois é animado pelo bem contido nos princípios
racionais que governam o universo (a providência).
o importante é a ordem do todo, da totalidade
do universo, o kósmos. isso quer dizer que, para os
estoicos, o bem do todo é melhor do que o bem
individual. Talvez possamos dizer que, para eles,
não há bem quando a pessoa se afasta do todo.
5. Faça uma lista abrangente de seus desejos.
Depois procure classificá-los de acordo com
a teoria de epicuro. Você acredita que, se desenvolvesse
o autocontrole e apenas desejasse
o que é natural e necessário, sofreria menos
ou seria mais feliz?
Conexões
Capitulo 1 A felicidade 27
Usar o poder da vontade
Com base nessa cosmologia, os estoicos
entendiam que é impossível sermos felizes se
acreditarmos que felicidade é ter tudo o que
desejamos (como geralmente se pensa). basta
que fracassemos em alcançar um desejo e nos
tornamos infelizes.
A esse respeito, ensinavam que há coisas
que dependem de nós e há outras que não dependem
de nós ou só de nós. Depende de nós,
por exemplo, elaborar um bom trabalho ou ser
bom e generoso; não depende de nós (ou só de
nós) ganhar na loteria ou conquistar o coração
da pessoa amada.
então, se existe uma ordem cósmica predeterminada
e se há coisas que não dependem
de nós, só nos resta aproveitar uma “brechinha”
de liberdade que o estoicismo nos deixa
para garantir nossa felicidade: a aplicação de
uma faculdade que todos temos – a vontade.
É a vontade que nos permite querer ou não
querer as coisas. Veja que nada nem ninguém
pode me obrigar a querer o que não quero, ou
a não querer o que quero. Podem me obrigar,
por exemplo, a ir a uma festa, inclusive me levar
à força até lá, mas não podem me fazer querer
ir a essa festa.
É desse modo, para os estoicos, que posso
construir minha felicidade: usando minha vontade
para querer apenas aquilo sobre o que tenho
poder, que depende de mim e que me faz verdadeiramente
feliz.
Controlar pensamentos e paixões
Com base nesse raciocínio, os estoicos procuraram
orientar a conduta das pessoas estabelecendo
a seguinte distinção entre as coisas:
• boas – são aquelas que dependem de nós e que
devemos querer e buscar durante a vida para
sermos felizes. Trata-se das virtudes, como ser
prudente, justo, corajoso;
• más – são as coisas que dependem de nós, mas
que, ao contrário, devemos evitar durante a vida
se queremos ser felizes. Trata-se dos vícios e das
paixões, como ser imprudente, injusto, covarde,
guloso, raivoso;
• indiferentes – são as que não dependem de nós
e com as quais não devemos nos preocupar, sob
pena de gerar infelicidade. É o caso da morte,
do poder, da saúde ou doença, da riqueza ou
pobreza, entre outras.
A infelicidade ocorre, portanto, segundo os
estoicos, quando não conduzimos corretamente
nossos pensamentos e não evitamos as chamadas
coisas más. ou quando nos preocupamos
com as tais coisas indiferentes (algo muito frequente),
o que conduz à formulação de juízos
errôneos ou opiniões equivocadas sobre os
acontecimentos e o consequente despertar de
paixões (isto é, de uma coisa má).
Por esse raciocínio, podemos concluir que a
paixão (pathos, em grego) é o resultado do uso
inadequado da razão, enquanto a virtude consiste
na ação que se desenvolve conforme a razão (ou
seja, conforme a natureza, pois a natureza, como
vimos, é logos, razão).
ilustração extraída da obra
A atmosfera meteorológica
popular (1888), de Camille
Flammarion. Para o
estoicismo, é preciso viver
conforme a ordem cósmica
contida na natureza e em
cada um de nós.

28 Unidade 1 Filosofar e viver
Assim, dominar as paixões é o objetivo principal
da ética estoica. Para isso, o esforço em controlar
os pensamentos será fundamental, pois é o pensamento
equivocado que gera as condições para
o aflorar das paixões.
Veja o conselho de um pensador estoico grego,
Epiteto (55-135), que foi escravo em Roma durante
a maior parte de sua vida:
Lembra-te que não é nem aquele que te diz injúrias,
nem aquele que te bate, quem te ultraja, mas sim a
opinião que tens deles, e que te faz olhá-los como
gente por quem és ultrajado. Quando alguém te
magoa ou te irrita, saiba que não é aquele homem
que te irrita, mas sim tua opinião. Esforça-te, portanto,
acima de tudo, para não te deixar levar por
tua imaginação. (Citado em Bosch, A filosofia e a
felicidade, p. 103.)
o sábio, portanto, seria aquele que pensa corretamente,
de acordo com as exigências da razão
universal (ou seja, conforme a natureza), controla
seus pensamentos e evita as ilusões das paixões.
Desse modo, atinge a apatia (eliminação de paixões)
e a ataraxia (imperturbabilidade da alma).
e quem é imperturbável não tem tristeza, e sem
tristeza se é feliz.
amar o próprio destino
o domínio sobre os pensamentos e as paixões
seria a via negativa para atingir a felicidade. Diz-se
“negativa” porque se dá pela negação das paixões,
pela negação das causas da infelicidade. mas há
também um percurso positivo, o do amor fati, expressão
latina que significa “amor aos fatos, aos
acontecimentos”, como o próprio destino. Vejamos.
Como vimos antes, de acordo com o estoicismo,
tudo é animado pelos princípios racionais que governam
o universo, de tal maneira que tudo o que acontece
e não depende de mim é necessário e bom.
mesmo a morte de um ente querido, por exemplo,
deve ser tomada como um acontecimento bom, no
sentido de que faz parte da ordem universal.
Por isso, os estoicos entendiam que uma pessoa
não deve se revoltar por ter nascido com uma deficiência
física ou por ser feia, pobre ou até mesmo
escrava (recorde que a escravidão era algo bastante
comum e aceito como “natural” nas sociedades antigas).
Tudo isso não depende dela. A pessoa deve
não apenas aceitar o peso de seu destino, mas também
querê-lo, isto é, amar o que é, o que tem e o
que vive. Deve, enfim, compreender que faz parte
da totalidade e ter amor por seu destino (amor fati).
somente assim poderá ser feliz.
Parábola do velho do forte
Vejamos agora uma parábola, cuja autoria
é atribuída a lieh-Tsé (c. 300 a.C.),
pensador da escola taoista. o taoismo é
uma doutrina místico -filosófica chinesa
– formulada principalmente por lao-Tsé
no século Vi a.C. – que enfatiza a integração
do ser humano à realidade cósmica
primordial.
Desenho chinês do século XVIII – artista
desconhecido. Conta-se que o grande
mestre do taoismo passou a ser chamado
de lao-Tsé (“homem Velho”) quando
era ainda um bebê, por já manifestar
grande sabedoria. De acordo com a lenda,
cansado da maldade em seu país, ele
partiu um dia para o ocidente cavalgando
sobre um búfalo, até nunca mais ser visto.
Coleção PARTiCulAR
Parábola – história (narrativa) curta
e figurativa (alegórica) contada com
o propósito de transmitir outra ideia,
mensagem ou ensinamento.
Cap’tulo 1 A felicidade 29
Um velho vivia com seu filho em um forte abandonado, no alto de um monte, e um dia perdeu um cavalo. Os vizinhos vieram-lhe expressar seu pesar por esse infortúnio, e o velho perguntou:
– Como sabeis que é má sorte?
Poucos dias mais tarde voltou seu cavalo com um bando de cavalos selvagens, e vieram os vizinhos felicitá-lo por sua boa sorte, e o velho respondeu:
– Como sabeis que é boa sorte?
Com tantas montarias a seu alcance, começou o filho a cavalgá-las, e um dia quebrou uma perna. Vieram os vizinhos apresentar-lhes condolências, e o velho respondeu:
– Como sabeis que é má sorte?
No ano seguinte houve uma guerra, e, como o filho do velho era agora inválido, não teve de ir para a frente.
yutang, A importância de viver, p. 154.
6. Qual é o significado ou a mensagem da parábola anterior? É possível relacioná-la com o caminho estoico
da felicidade? Por quê?
ConExõEs
5. Como Platão concebia a realidade? Para ele tudo
era matéria?
6. Por que a tese de Platão sobre a alma humana é tão
importante para entender sua doutrina a respeito
da felicidade?
7. explique a fórmula conhecimento = bondade = felicidade,
tendo como referência o sistema platônico.
8. o que é virtude para Aristóteles? Crie exemplos
novos de virtude.
9. Para Aristóteles, a felicidade é uma combinação
de vida dedicada à contemplação teórica, aliada
à prática das outras virtudes humanas e sustentada
pelo bem-estar material e social. Analise
essa afirmação.
10. Qual é a ideia fundamental contida na metáfora
“uma andorinha não faz verão”? Por que Aristóteles
a utiliza?
11. Como epicuro concebia a realidade? Para ele
tudo é matéria? Como sua concepção da realidade
contribui para seu entendimento do que é
ser feliz?
12. É possível afirmar que a concepção de felicidade
de epicuro contrapõe-se à de Aristóteles e, especialmente,
à de Platão?
13. Como o estoico concebe a realidade? Tudo é matéria
para o estoico?
14. Qual é a importância da cosmologia estoica na
determinação de sua ética sobre a felicidade?
15. explique o papel da vontade e do controle sobre os
pensamentos na ética estoica.
16. Como é a felicidade que se alcança pela via do
amor fati?

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Olá meus queridos! E aí tudo na paz? Que tal continuarmos com mais uma bateria de exercícios  para o ENEM? Como já avisei na atividade passada, filosofia e sociologia vem  no mesmo caderno logo teremos questões envolvendo as duas disciplinas. Algumas questões estão um pouco desarrumada, mas prometo vou arrumando. Qualquer dúvida é só postar nos comentários. o gabarito estará no final. Abraços!!  OK????  23 PROVAS DO ENEM ORGANIZADAS POR DISCIPLINA PROVAS 2009 a 2018 327 QUESTÕES COM GABARITO CADERNO ENEM ENEM 2009 a 2018 Sobre o Caderno Enem Desde a mudança no formato da prova, em 2009, já ocorrerão 23 edições do ENEM, considerando provas oficiais, anuladas e aplicadas em Unidades Prisionais. Este material reúne todas estas provas, organizando suas questões segundo a respecti-va disciplina abordada. No total, temos 12 cadernos: Matemática, Biologia, Física, Quí-mica, História, Geografia, Filosofia/Sociologia, Inglês, Espanhol, Português, Redação e Literatura. Na sequ...

ATIVIDADE XX DE FILOSOFIA 2° ANO VESP/NOT

 Olá galera! que tal mais uma atividade? Trata -se de um simulado de filosofia, com o gabarito no final  da atividade. Um abraço a todos. Bons estudos! SIMULADO DE FILOSOFIA 1) A Filosofia é uma disciplina, ou uma área de estudo que envolve: a) (   ) investigação, análise, discussão, formação e reflexão de idéias em uma situação geral, abstrata ou fundamental. b) (   ) objeto e investigação de uma maneira restrita. c) (   ) é uma disciplina que não está preocupada com: análise, discussão e reflexação de idéias. d) (   ) NRA 2)  A Filosofia originou-se de:                        a) (   ) inquietação gerada pela  falta de curiosidade humana em compreender e questionar os valores e as interpretações comumente aceitas sobre a sua própria realidade. b) (   ) falta de cultura dos...

Atividade XXIII filosofia 3°ano Vesp/Not

 Bom dia meus queridos! Espero que tudo esteja em paz com vocês. vamos a mais uma atividade sobre Michael Focault.  Leitura do texto e responder o que se pede. Gabarito no final. Um abraço a cada um de vocês, bons estudos!! Data: 08/07/2020   11h às 12h                                                                                        Filosofia   Tema: O Panoptismo de Foucault: estamos todos vigiados?   I. Leitura filosófica do texto a seguir:   TEXTO O Panoptismo em Vigiar e Punir de Michel Foucault   ...